Por: Dom Henrique Soares
Sei que o título desde artigo é instigante. Estou ainda no
marco do Catecismo da Igreja (nn. 31-43), no meu propósito de apresentar
aspectos do nosso credo católico durante o Ano da Fé instituído pelo Papa Bento
XVI.
A Igreja é convicta – e penso que com toda razão – de que o
homem, precisamente por ter sido criado por Deus e para Deus, traz no seu
íntimo o chamado irrefreável a conhecer e amar o seu Criador. Se de antemão o
ser humano não se fechar preconceituosamente, descobre “certas vias” para
chegar a um conhecimento da existência de Deus através de argumentos
convergentes e convincentes. Para isto há, fundamentalmente, dois pontos de
partida: o mundo e o próprio ser humano.
Observando a natureza, o macro e o micro cosmo, a pergunta
espontânea que surge é: “Donde vem tudo isto? Por que existem estas coisas e
não o nada? Donde vem a harmonia das coisas, as leis da natureza que em tudo
estão inscritas?” Já Santo Agostinho exclamava: “Interroga a beleza da terra,
interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde,
interroga a beleza do céu, interroga todas essas realidades. Todas elas te
respondem: olha-nos, somos belas! Sua beleza é um hino de louvor. Essas belezas
sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo, não sujeito à mudança?”
Também se olharmos o ser humano, essa maravilha
impressionante: quanta nostalgia da verdade e da beleza em seu coração; além
disso, o impressionante sentido do bem moral, com sua liberdade e a voz da sua
consciência, com sua aspiração ao infinito e à felicidade. Eta, ser humano, que
teima em sonhar, em querer viver, em não se satisfazer com menos que o
infinito! O bicho homem transcende o mundo material: é um poço de sonho e de
capacidade de imaginar, sonhar, amar... “Como semente de eternidade que leva
dentro de si, irredutível à só matéria, sua alma sedenta de infinito não pode
ter origem senão no Infinito”, Aquele a que chamamos “Deus”.
Assim, “o mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos
nem seu princípio primeiro nem seu fim último”, mas que provêm de um Outro, de
uma Causa Primeira, eterna, suficiente, infinita, não causada por nada. Se
pensarmos nisso sem preconceito, sem má vontade, certamente o coração e a
inteligência chegam a intuir a existência de Alguém inteligente, bom, amável,
onipotente, respeitoso de suas criaturas, de quem tudo provém, em quem tudo
encontra seu sentido último e para quem tudo caminha.
Infelizmente, esse conhecimento natural e espontâneo de Deus
encontra obstáculos: (1) Primeiro, Deus ultrapassa totalmente as coisas
simplesmente sensíveis. Neste mundo empanturrado do tocar, do ver, do medir, do
possuir, vamos embotando nossa capacidade de respirar o Eterno, de sonhar com o
Infinito que escapa aos nossos sentidos exteriores. (2) Além do mais, crer na
existência de Deus não é algo simplesmente teórico, mas em geral, traz
consequências para a vida prática, exigindo mudança, compromisso com o bem e
abandono do mal. Aí topamos com o orgulho, a soberba, o egoísmo e o comodismo
do coração humano, com sua inclinação para o mal. Infelizmente, “os homens, em
tais questões, facilmente procuram persuadir-se de que seja falso ou ao menos
duvidoso aquilo que não desejam que seja verdadeiro”. Uma coisa é certa: ainda
que se possa chegar a um conhecimento natural, racional da existência de Deus,
sem a graça que abre o nosso coração e nos enche de boa vontade, na prática tal
percepção é impossível! Fechados, obtusos e presunçosamente cegos, gritaremos:
“Deus não existe!” E sussurraremos bem baixinho, para que nem mesmo nós
escutemos: “Não existe, porque eu não quero que Ele exista!”
Ainda um dado importante: mesmo quando falamos sobre Deus, é
indispensável levar em conta que nossa linguagem é totalmente inadequada para
exprimi-Lo. Como falar do Infinito, Eterno, Imutável, que não pode ser
comparado com nenhum outro ser? “É verdade que as criaturas, todas elas trazem
em si certa semelhança com Deus, muito particularmente o homem, criado à Sua
imagem e semelhança”. Mas, atenção: “Deus transcende toda criatura”, de modo
que “entre o Criador e a criatura não se pode notar uma semelhança, sem que se
deva notar entre eles uma ainda maior dessemelhança”. Assim, falando com mais
exatidão, “não podemos apreender de Deus o que Ele é, mas apenas o que Ele não
é e de que maneira os outros seres se situam em relação a Ele”. Trocando em
miúdos: a nossa linguagem sobre Deus é verdadeira, mas sumamente inadequada:
tudo quanto Dele dissermos é uma comparação mal comparada, pois Ele é o que
dizemos, mas de um modo absolutamente único e diverso, já que Ele é totalmente
diferente de todas as Suas criaturas. Isto coloca nossa barba de molho para que
sejamos humildes ao falar de Deus e ao querer compreender os Seus caminhos! Na
Bíblia, tal grandeza do Senhor Deus tem um nome: santidade! Ele é o Santo, isto
é, Ele é o Outro, diverso e acima de tudo! A melhor linguagem para falar de
Deus? Ei-la: o silêncio admirado e adorante!
Nenhum comentário:
Postar um comentário