* Por Rodrigo R. Pedroso
O filósofo espanhol Julián Marías, ao comentar sobre as
perseguições antigas e presentes ao cristianismo, afirmou que não se compreende
a hostilidade contra algo que é admirável.
Assim, o ódio anticristão seria intrinsecamente irracional.
Efetivamente, o que há de mais belo neste mundo do que o cristianismo? Uma
virgem concebe e dá à luz um menino. Este menino é o próprio Deus feito homem,
andando no mundo e vivendo a vida dos homens, com suas dores e alegrias; o
Verbo Criador, sem nada perder de sua divindade, assume a natureza humana de
sua criatura. «Verdadeiro homem, concebido do Espírito Santo e nascido da
Virgem Maria, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado, anunciou aos
pobres a salvação, aos oprimidos, a liberdade, aos tristes, a alegria» (Oração
eucarística n. 4). Filho eterno de Deus Pai, consubstancial com o Pai e o
Espírito Santo na mesma e única Essência divina, doou-se totalmente para a
salvação da humanidade e reparar o pecado do homem. «Porque Deus amou de tal
modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito, para que todo o que crê n'Ele
não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3,16). Este Deus feito homem deixou-se
crucificar pelos homens e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, vencendo a
morte e nos dando a vida. Após a Ressurreição, apareceu aos discípulos e subiu
aos céus, «não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza
de que nos conduzirá à glória da imortalidade» (prefácio da Ascensão).
Pois então, existe história mais bonita que esta? Uma
história sublime e ao mesmo tempo tão simples, que não encontra emulação
[igualdade] em página alguma da literatura humana. Podem convocar todos os
críticos literários do mundo, nenhum deles, honestamente, poderá apontar
narrativa mais bela que o Evangelho. Nada do que a criatividade humana soube
escrever pode ousar comparar-se. Esta é uma das provas da autoria divina dos
Evangelhos: aquilo não pode ser obra humana, pois nada do que o homem produziu
se lhe compara. Só o mesmo Deus poderia compor história tão bela, capaz de
comover os homens de todos os tempos e de todos os lugares. Ademais, as narrativas
que o homem criou foram inventadas pela imaginação e produzidas com papel e
tinta, enquanto Deus fala nos fatos: antes de ser escrita nos livros, a
narrativa evangélica foi representada diante dos homens por personagens de
carne e osso, mediante fatos reais.
E se o Evangelho, centro da Sagrada Escritura, resplandece
por sua sublime beleza, nem por isso o restante da Sacra Página encontra-se
privado de encanto e ornamento. Vejam só a história de Abraão e de Sara, de
Isaac e de Rebeca, e de Jacó que «sete anos de pastor serviu Labão, pai de
Raquel, serrana bela» (Camões). A história de José, vendido por seus irmãos e
depois salvando os mesmos irmãos que o tinham entregue, numa figura do Messias
que viria. A singela história de fé de Tobias e a luta heroica dos Macabeus. E,
no Novo Testamento, a conversão de São Paulo no caminho de Damasco: o
perseguidor que se torna o Apóstolo dos Gentios, pregando o Verbo entre os
surdos e os descrentes. Entre tantos outros episódios que poderiam ser citados.
Porém, de fato, o que pode haver de mais belo do que Deus
assumindo a nossa própria natureza? «O Verbo se fez carne, e habitou entre nós»
(Jo 1,14). Este é o mistério da encarnação; é, em certo sentido, a diferença
específica do cristianismo. Em nenhuma outra religião o Deus único e Criador de
todas as coisas assumiu a natureza humana, tornando-se «em tudo à nossa
semelhança, exceto no pecado» (Hb 4,15), tomando para si um corpo e uma alma de
homem. Ainda não contente, quis esse Deus ser mesmo nosso alimento na Eucaristia,
em que Ele está substancialmente presente em sua divindade e humanidade.
O cristianismo não é apenas belo em si, como também é
produtor de beleza. Por séculos, a verdade cristã inspirou os maiores artistas
e promoveu a produção de inúmeras obras artísticas que enriqueceram a
civilização não apenas nas letras, como em cada uma das belas artes. Diante dos
magníficos tesouros artísticos produzidos e inspirados pelo cristianismo, o que
uma doutrina como o ateísmo teria a oferecer de semelhante? Será que a negação
de Deus pode ser suficiente para inspirar um artista a produzir coisas belas?
***
Rodrigo R. Pedroso, com 32 anos de nascido, é brasileiro,
casado, advogado graduado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco
(FD/USP), mestrando em filosofia política pela FFLCH/USP e procurador da
Universidade de São Paulo. Críticas, dúvidas e sugestões podem ser enviadas
para o correio eletrônico rpedroso01@terra.com.br
Fonte: http://www.cleofas.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário