quarta-feira, 24 de abril de 2013

Condições da oração: III – Detestar o pecado



Por: Francisco Faus 

«Orar é falar com Deus», é um diálogo com Deus. É uma verdade básica que procuramos lembrar nas nossas meditações. Mas, para a oração ser um bom diálogo com Deus – já o sabemos -, tem que ser uma conversa de amor, cheia de sinceridade e confiança. Na realidade, toda a oração cristã deveria ser sempre uma procura muito sincera do Amor de Deus, uma “troca de amor” entre Ele e nós.
Já comentamos que, justamente por isso, uma condição da oração dos filhos de Deus é a “sinceridade” (ver “Condições da oração: II – Sinceridade”): abrimo-nos com Deus, e – como diz São Josemaria – procuramos contar-lhe «confiadamente tudo o que nos palpita na cabeça e no coração: alegrias, tristezas, esperanças, dissabores…».
Ora – pense bem nisso – como é possível “contar-lhe coisas de amor”, se não nos importamos com aquilo que, na nossa vida, ofende a Deus, nem que seja de leve? Seria como dizer-lhe com a boca: «Senhor, eu te amo muito» e, ao mesmo tempo, continuar friamente a espetar-lhe os pregos e a coroa de espinhos das nossas faltas e pecados.
Quanta razão não tem São Josemaria Escrivá quando diz que, para fazer a oração dos filhos de Deus, «temos que esforçar-nos para que não haja em nós a menor sombra de duplicidade. O primeiro requisito para desterrar este mal, que o Senhor condena duramente [ver Mt 7,21-23], é procurar comportar-nos com a disposição clara, habitual e atual, de aversão ao pecado. Energicamente, com sinceridade, devemos sentir, no coração e na cabeça, horror ao pecado grave. E, numa atitude profundamente arraigada, temos que detestar também o pecado venial deliberado, essas claudicações que, embora não nos privem da graça divina, debilitam os canais por onde ela nos chega».
Todos nós temos um monte de pecados veniais (é só deles que vamos falar nesta meditação), que já aderiram à nossa alma como musgo, como bolor, como plantas parasitas que roubam a “seiva” da alma, a enfraquecem e, sobretudo, ferem nela o amor a Deus. Temos…, mas ficamos sem fazer nada ou quase nada para vencê-los.
Pecados veniais? A lista seria interminável. Bastem uns poucos exemplos corriqueiros: irritações e impaciências em casa e no trabalho, que se repetem de modo habitual; palavras e olhares que magoam; muitas concessões à preguiça, que nos levam a fazer mal o trabalho, a adiar os deveres que custam, a dedicar menos tempo que o devido a Deus e às pessoas; caprichos da gula que não se justificam; curiosidade mórbida, que nos põe em perigo de faltar à castidade, etc.
Tentamos justificar-nos dizendo que “ninguém é perfeito”, o que é uma grande verdade, mas é uma verdade que interpretamos mal, pois confundimos as fraquezas e limitações inevitáveis (que sempre existirão, até nos santos), com as faltas que são evitáveis e que deveriam ser evitadas, verdadeiros “pecados” veniais que, se quiséssemos e pedíssemos ajuda a Deus, poderíamos evitar.
Jesus nos lembra repetidas vezes que o primeiro mandamento é «amar a Deus com todo o coração, com toda alma, com toda a mente e com todas as forças» (Mc 12,30), e por isso, no livro do Apocalipse, revela a São João a “mágoa” que lhe produzem os cristãos que se conformam com um amor medíocre, morno, contaminado pelo pecado venial consentido: «Tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor… Não achei as tuas obras perfeitas diante de meu Deus» (Apoc 2,4 e 3,2).
Convençamo-nos de que «os pecados veniais fazem muito mal à alma» (Caminho, n. 329). Não nos esqueçamos nunca de que não é compatível falar carinhosamente com Deus, enquanto “guardamos” tranquilamente, sem reagir, dentro da alma, hábitos e pecados veniais que são “parentes” daqueles cuspes, tapas, chicotadas e espinhos que caíram sobre Cristo na Paixão, quando sofria pelos nossos pecados (ver 1 Cor 15,3).
Então, o que devemos fazer? Dizer a Deus, sim, “eu te amo”, mas colocar ao mesmo tempo toda a força do nosso amor – robustecido pela graça de Deus – numa luta diária séria por vencer esses hábitos e pecados.
Meios para isso? Vários deles iremos comentá-los em outras ocasiões. Mas, para já, podemos enunciar os principais: confissão frequente, com verdadeira dor dos pecados e com o desejo de nos corrigirmos e reparar; exame de consciência todas as noites; pedir ao confessor conselhos e leituras que nos orientem nas nossas lutas concretas, e sermos mais mortificados (este será o próximo tema destas nossas reflexões).
Talvez você pergunte: -Empregando esses meios, será fácil vencer o pecado venial? – Será possível, ainda que não fácil, sobretudo se esses pecados são hábitos que já têm raízes fortes. Mas será possível mesmo, porque Deus está conosco e quer “lutar conosco”, como dizia Pascal. Pede-nos, porém, a humildade de não desanimar e sempre recomeçar a luta, mesmo que tornemos a cair nas mesmas faltas por fraqueza (o desânimo, aí, seria orgulho, vaidade de querer ver-nos logo perfeitos); pede-nos reforçar a oração e freqüentar mais a comunhão para obtermos mais graça, e, especialmente, pede-nos levantar-nos logo das quedas.
Por ser muito animador, quero terminar citando um trecho do livro Caminho: «Sei que te portaste bem…, apesar de teres caído tão fundo. – Sei que te portaste bem, porque te humilhaste, porque retificaste, porque te encheste de esperança e a esperança te trouxe de novo ao Amor. – Não faças essa cara boba de surpresa; de fato, te portaste bem! Já te levantaste do chão … Agora, ao trabalho!» (n. 264).


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