Jesus Cristo, vencendo a morte, nos comunica a Vida nova.
1. Significação deste Tempo. É o período que vai do
Domingo de Páscoa até o sábado depois de Pentecostes. Três grandes festas se
celebram neste espaço de tempo: a Páscoa ou Ressurreição, a Ascensão e a
descida do Divino Espírito Santo (Pentecostes). Tão antiga como a Igreja, a festa
da Páscoa regulou a distribuição do Ano eclesiástico. O Mistério pascal
preparado pela Quaresma e prolongado até Pentecostes, irradia sobre quatro
meses do ano cristão: e todo o resto do ano é apenas uma preparação ou uma
expansão desta solenidade.
Jesus Cristo, o Sol da Justiça, brilha hoje em toda a sua
plenitude. Sua Ressurreição é a prova mais brilhante e incontestável de sua
divindade. E' pois, com razão, que a santa Igreja, em transportes de alegria,
celebra o triunfo definitivo de Nosso Senhor e associa todos os seus filhos à
sua gloriosa Ressurreição, fazendo-os renascer para uma vida nova. Esta vida
nova tem a sua origem no Batismo. Por este motivo este Sacramento ocupa um
lugar de relevo na liturgia pascal. Administravam-no solenemente na noite do
Sábado Santo: e durante toda a oitava, os novos batizados, como filhos
recém-nascidos, absorviam todos os cuidados da santa Madre Igreja. Entretanto
esta Mãe pensa também em nós durante este Tempo. Jesus Cristo combateu também
por nossas almas. Sobre as ruínas do "velho homem", Ele quer fundar o
seu reino de graça. Cumpre, pois, exterminar de nós o pecado, único obstáculo à
nossa ressurreição. Eis porque a Igreja nos convida com tanta insistência para
o Sacramento da penitência!
2. Nossos sentimentos neste Tempo. O Cristão que
alcançou uma perfeita inteligência do que significa o Tempo pascal, e vive e
sente com a santa Igreja, compreendeu a vida sobrenatural em toda a sua
extensão. Sim, para nós, a Páscoa não é somente a comemoração da Ressurreição de
Jesus Cristo; é o início, é o penhor e a garantia da nossa própria. O Batismo
nos fez membros de Jesus Cristo. O Espírito Santo, que habita e vive n'Ele,
habita e vive também em nós. Nossos corpos são seus templos. Daí resulta que
este Espírito, que ressuscitou a Jesus Cristo, exercerá em todos os membros de
seu Corpo místico, as mesmas transformações. Ressuscitaremos e triunfaremos com
Ele. Nossa alma, nosso corpo, toda a nossa personalidade, todo este nosso eu,
que nos é tão caro, a quem a destruição e o nada horrorizam, conhecerá também
este dia vitorioso em que, vencida a morte, se tornará semelhante à humanidade
gloriosa do Salvador. E como as festas pascais nos fornecem o penhor infalível
desta Ressurreição, torna-se para nós um céu antecipado. A alma cristã, desde
já, vive com Jesus Cristo ressuscitado; e toda a liturgia com os seus aleluias
sem fim, dá-lhe um antegozo da eternidade.
3. Particularidades deste Tempo. Durante este período
parece que a santa Igreja olvida por algum tempo a sua condição de militante, a
fim de tomar parte nas alegrias da Igreja triunfante. Mais que em qualquer
outro tempo, o culto se reveste de um aspecto solene e jubiloso, que contrasta
com as tristezas da Semana Santa.
Cântico do céu, o aleluia, banido dois meses dos nossos
lábios, ressoa enfim. Dir-se-ia não ter a Igreja outra palavra para exprimir a
sua alegria. O Círio pascal, símbolo do Cristo ressuscitado, lá está aceso,
atestando até o dia da Ascensão, o Ressurgimento.
Um reflorescer de vida sobrenatural se opera na Igreja, como
se das festas pascais brotasse uma seiva nova. Águas batismais. Santos óleos.
Pão eucarístico. Luz. Fogo. Incenso. Todas estas energias foram renovadas.
Suspensos os seus ritos de penitência. Os ornamentos são brancos. O Asperges que
purifica é substituído por um hino às águas vivificadoras que acabam de brotar.
Fica interrompida a lei do jejum, mesmo nas ordens religiosas mais severas. As
Orações se fazem de pé, pois outra atitude conviria menos a triunfadores.
In Missal Quotidiano, D. Beda Keckeisen, O.S.B.,
Tipografia Beneditina, LTDA, Bahia, junho de 1957.
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