Por: Padre Francisco Faus.
Qualquer forma de oração – meditação, oração mental, oração
vocal – precisa de umas condições favoráveis, da mesma maneira que uma planta
só cresce numa terra adequada e com um clima propício.
A) Em primeiro lugar, para orar bem precisamos de ter as
condições “exteriores” imprescindíveis: “recolhimento exterior”. Ninguém
consegue conversar com paz no meio do barulho estridente de uma festa animada
por rock metaleiro, nem no centro do fogo cruzado dos gritos das torcidas num
estádio.
É verdade que se pode rezar bem na rua, no carro, no ônibus,
num trem atulhado de gente, em meio ao barulho do trânsito, mas, para isso, é
preciso possuir as condições de “recolhimento interior” de que falaremos
depois.
Em todo o caso, não há dúvida de que deveríamos esforçar-nos
por garantir um mínimo de condições “exteriores” de recolhimento. Concretamente
– como já mencionamos em outro dos nossos encontros -, orar num local e
ambiente que seja “recolhido”, ou seja, que nos permita isolar-nos sem ser
atrapalhados por barulhos e interrupções. Pode ser no nosso quarto, como o
próprio Cristo aconselha (cf. Mt 6,6), ou numa sala isolada do prédio onde
estudamos ou trabalhamos, ou num canto do quintal, ou em outro lugar tranquilo
a céu aberto, como Jesus fazia (cf. Lc 4,42), ou – melhor ainda, quando isso
for possível – numa igreja ou capela.
B) Contudo, bem mais importantes do que as condições
“exteriores” são as condições “interiores” necessárias para fazer uma boa
oração. Vamos começar pensando no “recolhimento interior”.
Nunca lhe aconteceu de estar a sós, à noite, na cama ou num
lugar isolado e silencioso, e perceber que não consegue se concentrar, porque
há uma enorme confusão e uma “agitação” angustiante dentro de você? Cruzam pela
cabeça, como foguetes, ou ficam martelando, pensamentos variadíssimos:
lembranças do dia que passou, preocupações e medos que ficaram entalados,
ansiedade pelo que se esqueceu de fazer ou pelo que terá de fazer amanhã,
“filminhos” em que você é protagonista, e neles tem a coragem ou o jeito que
não foi capaz de ter na hora certa: vencer a timidez, responder brilhantemente,
retrucar à altura a um petulante, dizer na cara a um desabusado “o que merece
ouvir”, achar as palavras acertadas para iniciar um namoro ou uma amizade… E,
assim, não consegue concentrar-se, nem rezar, nem meditar, nem falar em paz com
Deus.
Ou será que tem medo de ficar a sós com a sua alma, porque
teme o vazio que nela vai descobrir? Você deve conhecer, como eu, pessoas que
são incapazes de ficar dez minutos a sós, em silêncio: sentem uma espécie de
vertigem, experimentam o mal-estar de quem se acha pendurado sobre o abismo do
nada, ou de quem quer evitar a todo o custo ter que enfrentar-se sinceramente
consigo. Por isso, tratam de esquivar o vazio e o medo de serem sinceros com
diversas “técnicas de fuga”: horas e horas de Internet à toa, de televisão, de
escuta de som estridente; de baladas, de bebida, ou simplesmente de cochilo e
sono… A alma está vazia, é preciso tapá-la.
Como vê, o que acabamos de descrever são duas faltas de
recolhimento interior muito comuns: a) a procedente do descontrole da
imaginação, da memória, dos sentimentos; e b) o medo de ser sincero e de se
enfrentar consigo mesmo.
Hoje ficaremos apenas com a primeira dessas faltas de recolhimento
interior, e tentaremos sugerir alguns meios para consegui-lo. Em outra ocasião,
refletiremos sobre a segunda.
Para conquistar o recolhimento interior e dominar aos poucos
o caos da imaginação, da memória e dos sentimentos, há, principalmente, três
meios:
1) Primeiro, um meio muito simples… e nada fácil! “A ordem”:
tanto a ordem material como a ordem nos horários e tarefas.
Uma pessoa desorganizada vive com marimbondos na cabeça, que
não lhe dão sossego: “tenho muito que fazer…, mas o que faço primeiro?”,
“esqueci, não anotei, não previ… e vou chegar tarde, vou perder o prazo…”, “por
que não aproveitei a chance que tive de fazer uma ligação ou uma visita, e de
resolver ou ao menos encaminhar esse problema que agora me aflige ou me deixa
frustrado?”, “passou-me o aniversário de Fulano!”, “não calculei bem, e agora
não dá mais para estudar tudo o que precisaria para as provas”…
Muito bem diz o livro Caminho: «Virtude sem ordem? –
Estranha virtude» (n.79), e «Quando tiveres ordem, multiplicar-se-á o teu
tempo…» (n. 80).
Aconselho-lhe que, em um dia em que estiver afobado e sentir
a agonia de um monte de coisas a fazer que se agitam por dentro como
marimbondos desvairados, se decida a parar, a deter por cinco minutos a
“correria”: sente-se, pegue num papel (melhor numa agenda, pequena ou média,
inseparável) e anote os assuntos pendentes, colocando-os em coluna e
recolocando-os a seguir pela ordem de precedência que julgar melhor. Verá duas
coisas: os “marimbondos”não são “tantos” como a imaginação insinuava, e o tempo
não é “tão curto” como parecia. Normalmente, dá para fazer tudo ou quase tudo.
Se, ainda por cima, percebe que se demora demais em certas
tarefas, telefonemas ou “papos-moles” e que poderia também ter aproveitado
melhor alguns intervalos e tempos “mortos”, descobrirá que, com uma ordem bem
planejada, o tempo rende mais do que imaginava. Então, com o dia assim
preenchido e sem a angústia da afobação nas tarefas, chegará à noite ou
acordará de manhã com mais paz, poderá sentar-se, recolher-se e estar em
condições de ler e de orar com calma e proveito.
2) Segundo meio: vencer a curiosidade inútil ou má. Os olhos
e os ouvidos são janelas. Veja o que deixa entrar na alma por essas janelas.
Porque o que entra, fica, e depois pica (como os marimbondos). É preciso lutar
para evitar a curiosidade infantil e descontrolada, é preciso fazer a
mortificação de vencer-se nesse defeito. Quando se vai conseguindo, nota-se que
a paz aumenta na alma.
3) Terceiro meio, que também não é fácil, mas é possível.
Mal perceba que se agitam a imaginação e a memória com imagens e pensamentos
inúteis ou negativos, não se largue ao embalo deles, mas procure reagir. Poderá
fazê-lo com um ato de vontade – “tenho que parar de pensar nisso, vou pensar em
outra coisa” -, ou pedindo a ajuda de Deus, de Nossa Senhora, do seu Anjo da
Guarda; ou – por exemplo à noite, quando não conseguir adormecer – rezando
seguidamente orações breves (jaculatórias, como fazia o “peregrino russo”), ou
os Pai-nossos e as Ave-marias do terço; ou, se a insônia for mais forte,
pegando num livro bom para ler.
Recolhimento! Já viu que, no fundo, consiste na conquista do
silêncio exterior e interior.
Hoje, não quero terminar a nossa meditação sem citar-lhe
umas palavras da Madre Teresa de Calcutá:
«The fruit of silence is prayer. The fruit of prayer is
faith. The fruit of faith is love. The fruit of love is service. The fruit of
service is peace». [O fruto do silêncio é a oração. O fruto da oração é a fé. O
fruto da fé e o amor. O fruto do amor é o serviço. O fruto do serviço é a, paz]
Não gostaria de ser alma de oração e seguir esse
“itinerário da paz”?
Fonte: http://www.padrefaus.org
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