Ela, por um privilégio todo singular venceu o pecado.
A Sagrada Tradição da Igreja ensina que Nossa Senhora foi
elevada ao céu de corpo e alma, após sua morte. No entanto, as particularidades
da “morte” da Virgem Maria não são conhecidas. Santo Epifânio, bispo
de Salamina de Chipre, compôs, nos anos de 374-377, o livro sobre as heresias,
no qual escreve:
“Ou a santa Virgem morreu e foi sepultada e seguiu-se depois
sua Assunção na glória, ou sem fim verificou-se em plena e ilibada pureza,
adornando a coroa de sua virgindade...” (MS, p. 267).
O Dogma da Assunção da Virgem Santíssima foi proclamado,
solenemente, pelo Papa Pio XII no dia 1º de novembro de 1950 e sua festa é
celebrada no dia 15 de agosto. Grande júbilo e alegria pairou sobre todo o
mundo católico naquela data, especialmente para os filhos de Maria. Quando o
Papa o decretou por meio da Constituição Apostólica“Munificientissimus
Deus” foi uma verdadeira apoteose, tanto na Praça de São Pedro em Roma,
como nas outras cidades do mundo católico. Nesse documento disse o Papa: “Cristo,
com Sua morte, venceu o pecado e a morte e sobre esta e sobre aquele alcançará
também vitória pelos merecimentos de Cristo quem for regenerado
sobrenaturalmente pelo batismo. Mas por lei natural Deus não quer conceder aos
justos o completo efeito dessa vitória sobre a morte, senão quando chegar o fim
dos tempos. Por isso os corpos dos justos se dissolvem depois da morte, e
somente no último dia tornarão a unir-se, cada um com sua própria alma
gloriosa. Mas desta lei geral Deus quis excetuar a Bem-Aventurada Virgem
Maria. Ela, por um privilégio todo singular venceu o pecado; por sua Imaculada
Conceição, não estando por isso sujeita à lei natural de ficar na corrupção do
sepulcro, não foi preciso que esperasse até o fim do mundo para obter a
ressurreição do corpo”.
E, assim, na Praça de São Pedro, em Roma, diante do pórtico
de São Pedro, circundado por 36 Cardeais, 555 Patriarcas, Arcebispos e Bispos e
sacerdotes, e perante cerca de um milhão de fiéis, o Papa proclamava
solenemente:
“Depois de haver mais uma vez elevado a Deus nossas súplicas
e invocado as luzes do Espírito Santo, a glória de Deus Onipotente, que
derramou sobre a Virgem Maria Sua especial benevolência, em honra de Seu Filho,
Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte, para maior glória de
Sua augusta Mãe e para a alegria e exultação de toda a santa Igreja, e pela
autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e
Nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma de fé revelado por Deus
que: a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua
vida terrena, foi elevada à glória celeste em corpo e alma” (MS, p. 282).
O Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica “Marialis
Cultus”, resume a importância desse dogma numa expressão cheia de densidade:
“A solenidade de 15 de agosto celebra a gloriosa Assunção de
Maria ao céu: festa de seu destino de plenitude e de bem-aventurança,
glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal, de sua perfeita
configuração com Cristo ressuscitado” (MC, n. 6).
Assim, Maria participa da ressurreição e glorificação de
Cristo. É preciso lembrar, aqui, que somente Jesus e Maria subiram ao céu, de
corpo e alma. Os santos estão lá apenas com suas almas, pois os corpos estão na
terra, aguardando a ressurreição do último dia. Maria, ao contrário, foi
elevada ao céu também com seu corpo já ressuscitado. É uma grande glória dela.
A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em uma
Instrução de 17-05-1979, deixou bem claro:
“A Igreja, ao expor a sorte do homem após a morte, exclui
qualquer explicação que tire o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que
ela tem de único, ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem
Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros
eleitos” (n. 6).
Quais os motivos da Assunção de Nossa Senhora?
1 - Como Maria não esteve sujeita ao poder do pecado para
poder ser a Mãe de Deus, também não podia ficar sob o império da morte; pois,
como disse São Paulo, “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,23). Assim, Maria
não experimentou a corrupção da carne mas foi glorificada em sua alma e seu
corpo.
2 - A carne de Jesus e a de Maria são a mesma carne.
Portanto a carne de Maria devia ter a mesma glória que teve a de seu Filho.
São João de Damasco no ano 749 escreve:
“Era necessário que aquela que no parto havia conservado
ilesa sua virgindade conservasse também sem corrupção alguma seu corpo depois
da morte. Era preciso que aquela que havia trazido no seio o Criador feito
menino habitasse nos tabernáculos divinos. Era necessário que aquela que tinha
visto o Filho sobre a Cruz, recebendo no coração aquela espada das dores das
quais fora imunes ao dá-Lo à luz, O contemplasse sentada à direita do Pai. Era
necessário que a Mãe de Deus possuísse aquilo que pertence ao Filho e fosse
honrada por todas as criaturas como Mãe de Deus”.
E assim também se exprime São Germano, patriarca de
Constantinopla, falecido em 735, e outros santos (MS, pp. 272 e 273).
A festa do Trânsito de Maria, que honrava sua morte, passou
gradualmente a comemorar sua Assunção corporal ao céu. No sacramentário enviado
pelo Papa Adriano I ao Imperador Carlos Magno (768-814), que introduziu o
Cristianismo em todo o vasto império franco, está escrito:
“Digna de honra é para nós, Senhor, a festividade deste dia
em que a Beata Virgem Maria, a Santa Mãe de Deus, sofreu a morte temporal, mas
não pôde ser retida pelos inexoráveis laços, porque ela deu à luz o seu Filho,
nosso Senhor, que tomou sua carne” (MS, p. 273). No Sínodo de Mainz, no ano
813, Carlos Magno introduziu a festa da Assunção de Maria ao Céu, depois de
haver obtido autorização de Roma.
Foi São Gregório de Tours, falecido em 596, o primeiro a
proclamar a Assunção corpórea de Maria ao Céu. Um século mais tarde, Santo
Ildefonso de Toledo afirmou: “Não devemos esquecer que muitos consideram que
ela [Maria] foi neste dia levada corporalmente ao céu por Nosso Senhor Jesus
Cristo” (MS, p. 274).
Muitos santos perguntavam se o melhor dos Filhos poderia
recusar à melhor das Mães à participação em sua ressurreição e o glorioso
domínio à direita do Pai? Para eles sua dignidade de Mãe de Deus exige a
Assunção.
Para Santo Irineu, do século II, como a nova Eva, Maria
participou da sorte do novo Adão, Jesus Cristo, ressuscitou depois da morte, e
seu corpo não experimentou a corrupção (MS, p. 277).
Como Maria não teve na alma a mancha do pecado original,
ficou isenta da dura sentença dada aos demais: “Es pó e em pó hás de tornar”
(Gn 3,19). A nós que herdamos o pecado original, é preciso voltar ao pó da
terra de onde saímos, para que na ressurreição do último dia, o Senhor nos
refaça sem as sequelas do mal.
A rica Tradição da Igreja reconheceu desde os primeiros
séculos a gloriosa Assunção de Nossa Senhora. Dela dão testemunho S. João
Damasceno, São João Crisóstomo, S. Tomás de Aquino, S. Boaventura, S. Anselmo,
São Bernardo e outros luminares e teólogos famosos. Além disso, a Sagrada
Liturgia sempre confirmou a verdade desse dogma, tanto nos antigos missais como
nos sacramentários, hinos e saudações à subida da Rainha ao céu. Além disso,
nunca, em Igreja nenhuma da terra, se venerou uma relíquia do corpo de Maria
Santíssima, mostrando com isto uma convicção certa e inabalável de que Ela está
no céu.
Contudo, a razão mais forte da Assunção de Nossa Senhora
está no fato de ela ser a Mãe do Senhor. Como disse o frei Francisco de Monte
Alverne:
“Consentiria o meigo Jesus de Nazaré que sua morada
puríssima, o céu esplêndido onde por nove meses repousaria, a estátua viva
esculpida pelo próprio Criador, ficasse nessa terra de exílio? Porventura o Rei
dos Exércitos esperaria o fim dos tempos para que a corte celeste prestasse
homenagens reais à sua Mãe. Não, pois era mister que a humanidade reconhecesse
quanto era considerada uma mãe tão extremosa” (nota 22 e Tm p. 314).
A glória da Assunção de Nossa Senhora ao céu é, para nós que
ainda vivemos neste vale de lágrimas, a certeza de que o céu existe e é nosso
destino.
Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com
felipeaquino@cancaonova.com
Prof. Felipe Aquino @pfelipeaquino, é casado, 5 filhos,
doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João
Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de
60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola
da Fé" e "Pergunte e Responderemos". Saiba mais em Blog do
Professor Felipe Site do autor: www.cleofas.com.br
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