A vocação de todo o cristão à santidade foi o tema central
da Catequese do Papa Bento XVI na manhã de quarta-feira,
13 de abril. O encontro encerrou o ciclo de meditações do Santo Padre sobre a vida dos
Santos, iniciado há dois anos.
Segundo o Bispo de Roma, toda a história da Igreja é assinalada por homens e
mulheres que, com seu testemunho de fé, caridade e com a própria vida se
tornaram faróis para muitas gerações, incluindo também a nossa.
"Ao término deste ciclo de catequeses, gostaria de oferecer alguns
pensamentos sobre o que seja a santidade. O que significa dizer ser santos?
Quem é chamado a ser santo? Muitas vezes, somos levados ainda a pensar que a
santidade seja uma meta reservada a poucos eleitos. [...] A santidade, a
plenitude da vida cristã, não consiste em cumprir ações extraordinárias, mas em
unir-se a Cristo, em viver os seus mistérios, em fazer nossas as suas atitudes,
seus pensamentos, seus comportamentos. A medida da santidade é dada pela
estatura que Cristo alcança em nós, através da qual, com a força do Espírito
Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a sua. É o ser conforme a Jesus.
Todos somos chamados à santidade: é a medida mesma da vida cristã",
ressaltou.
O Sucessor de Pedro propôs dois questionamentos fundamentais: Como podemos
percorrer a estrada da santidade, responder a esse chamado? É possível apenas
com nossas próprias forças? "A resposta é clara: uma vida santa não é
fruto principalmente do nosso esforço, das nossas ações, porque é Deus que nos
torna santos, é a ação do Espírito Santo que nos anima a partir de dentro, é a
vida mesma de Cristo Ressuscitado que nos é comunicada e que nos
transforma".
A santidade tem sua raiz última na graça batismal, pois é devido a ela que
nosso destino é ligado indissoluvelmente ao seu. "Mas Deus respeita sempre
a nossa liberdade e pede que aceitemos esse dom e vivamos as exigências que ele
comporta, pede que nos deixemos transformar pela ação do Espírito Santo,
conformando a nossa vontade à vontade de Deus", explicou.
Como viver? O que é essencial? É possível?
Aqui surgem duas outras indagações importantes: Como pode acontecer que o nosso
modo de pensar e as nossas ações tornem-se o pensar e o agir com Cristo e de
Cristo? Qual é a alma da santidade? "De novo o Concílio Vaticano II
precisa; diz-nos que a santidade cristã não é nada mais que a caridade
plenamente vivida, o dom primeiro e mais necessário. Mas, para que a caridade
cresça na alma e ali frutifique cada fiel deve escutar voluntariamente a
Palavra de Deus e, com o auxílio da sua graça, realizar as obras de sua
vontade, participar frequentemente dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia e
da santa liturgia; aplicar-se constantemente à oração, à abnegação de si mesmo,
ao serviço ativo dos irmãos e ao exercício de toda a virtude. A caridade dirige
todos os meios de santificação, lhes dá forma e condu-los ao seu
objetivo", definiu Bento XVI.
Frente à possível dificuldade de compreensão dos marcos pastorais do Concílio,
o Papa diz que talvez seja preciso dizer as coisas de modo mais simples.
"O que é essencial?", pergunta, e indica não deixar nunca de
participar do encontro com Cristo Ressuscitado na Eucaristia aos domingos, não
começar e não terminar o dia sem ao menos um breve contato com Deus e seguir os
indicadores que ele coloca à beira do caminho de nosso vida. "Essa é a
verdadeira simplicidade, grandeza e profundidade da vida cristã, do ser
santos", frisou.
O Papa lança ainda outro questionamento: Podemos nós, com os nossos limites,
buscar a uma meta tão alta? Bento XVI explica que a Igreja convida, durante
todo o Ano Litúrgico, a fazer memória de uma legião de Santos que viveram
plenamente a santidade na sua vida cotidiana, os quais dizem-nos que é possível
percorrer essa estrada.
"Na realidade, devo dizer que também para a minha fé pessoal muitos
santos, não todos, são verdadeiras estrelas no firmamento da história. E
gostaria de complementar que, para mim, não somente alguns grandes santos que
amo e que conheço bem são 'indicadores do caminho', mas propriamente também os
santos simples, isto é, as pessoas boas que vejo na minha vida, que não serão
nunca canonizadas. São pessoas normais, por assim dizer, sem heroísmo visível,
mas na sua bondade de todo dia vejo a verdade da fé. Essa bondade, que
amadureceram na fé da Igreja, é para mim a mais segura apologia do cristianismo
e o sinal de onde esteja a verdade", ressaltou.
Por fim, disse:
"Queridos amigos, como é grande e bela, e também simples, a vocação cristã
vista nessa luz! Gostaria de convidar a todos a abrir-se à ação do Espírito
Santo, que transforma a nossa vida, para sermos também nós como peças do grande
mosaico de santidade que Deus vai criando na história, para que o rosto de
Cristo resplandeça na plenitude do seu fulgor. Não tenhamos medo de tender ao
alto, rumo às alturas de Deus; não tenhamos medo de que Deus nos peça muito,
mas deixemo-nos guiar em cada ação cotidiana pela sua Palavra, também se nos
sentimos pobres, inadequados, pecadores: será Ele a transformar-nos segundo o
seu amor"
A audiência
O encontro do Bispo de Roma com os cerca de 15 mil fiéis reunidos na Praça de
São Pedro aconteceu às 10h30 (horário de Roma - 5h30 no horário de Brasília). O
Papa conclui uma série de encontros para completar a apresentação dos Doutores
da Igreja, no contexto de Catequeses dedicadas aos padres da Igreja e grandes
figuras de teólogos e mulheres da Idade média.
Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:
"de coração saúdo os peregrinos do Brasil e os portugueses da paróquia de
São Martinho do Bispo e da Escola da Lourinhã. Esta vossa peregrinação a Roma
seja para todos um encontro com Jesus Cristo, que encha cada vez mais a vossa
vida de amor de Deus e do próximo. Sobre as vossas famílias e comunidades
desçam abundantes os favores divinos, que sobre todos invoco, ao dar-vos a
Bênção Apostólica".
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