domingo, 25 de novembro de 2012

Festa de Cristo Rei




A Festa de Cristo Rei é uma das festas mais importantes no calendário litúrgico, nela celebramos aquele Cristo que é o Rei do universo. O seu Reino é o Reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz.

Esta festa foi estabelecida pelo Papa Pio XI em 11 de março 1925. O Papa quis motivar os católicos para reconhecer em público que o líder da Igreja é Cristo Rei. Mais tarde a data da celebração foi mudada dando um novo senso.

O ano litúrgico termina com esta que salienta a importância de Cristo como centro da história universal. É o alfa e o omega, o princípio e o fimCristo reina nas pessoas com a mensagem de amor, justiça e serviço. O Reino de Cristo é eterno e universal, quer dizer, para sempre e para todos os homens.

Esta festa tem um sentido escatológico na qual nós celebramos Cristo como Rei de todo o universo. Nós sabemos que o Reino de Cristo já começou a partir de sua vinda na terra a quase dois mil anos, porém Cristo não reinará definitivamente em todos os homens até que volte ao mundo com toda a sua glória no final dos tempos. Jesus nos antecipou sobre esse grande dia, em Mateus 25, 31-46.
Na festa de Rei de Cristo celebramos que Cristo pode começar a reinar em nossos corações no momento em que nós permitimos isto a ele, e o Reino de Deus pode deste modo fazer-se presente em nossa vida. Desta forma estabelecemos o Reino de Cristo de agora em diante em nós mesmos e em nossas casas, emprego e vida.

Jesus nos fala das características do seu Reino por várias parábolas no capítulo 13 de Mateus: 
 

"O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando dele, semeou no seu campo".

"O qual é realmente a mais pequena de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos".

"O reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado".

"Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo".

Nestas parábolas Jesus nos faz ver claramente que vale a pena procurar e viver o Reino de Deus, isto vale mais do que todos os tesouros da terra e que o crescimento dele será discreto, sem ninguém perceber, mas efetivo.

A Igreja tem a responsabilidade de orar e aumentar o reinado de Jesus Cristo entre os homens. O aumento do Reino de Deus deve ser o centro de nossa vida como membros da Igreja. Fazer com que Jesus Cristo reine no coração dos homens, no peito das casas, nas comunidades e nas cidades.

Com isto nós poderemos chegar a um mundo novo no qual reinará o amor, a paz e a justiça e a salvação eterna de todos os homens.

Para que Jesus reine em nossa vida, devemos em primeiro lugar conhecer Cristo. A leitura e reflexão do Evangelho, a oração pessoal e os sacramentos são os meios para conhece-Lo e as graças recebidas vão abrindo os nossos corações a seu amor. Trata-se de conhecer Cristo de uma maneira experimental e não só teleológica.

Oremos com profundidade escutando o Cristo que nos fala. Ao conhecer Cristo expressaremos o amor de maneira espontânea, por que Ele é bondade.

O amor a Cristo nos levará quase sem perceber a pensar como Cristo, querer como Cristo e sentir como Cristo, vivendo uma vida de verdadeira caridade e Cristandade autentica. Quando imitarmos Cristo conhecendo-o e amando-o, então podemos experimentar seu Reino.

O compromisso apostólico consiste em levar nosso amor para a ação de estender o Reino de Cristo a todas as almas por meio de trabalhos concretos de apostolado. Nós não podemos parar. Nosso amor aumentará.

Dedicar a nossa vida a expandir o Reino de Cristo na terra é o melhor que podemos fazer, pois Cristo nos recompensará com alegria e uma paz profunda e imperturbável em todas as circunstancias da vida.

Ao longo da história existem inumeráveis testemunhos de cristãos que deram a vida por Cristo como o Rei de suas vida


Fonte: http://www.coracaodemaria.org.br

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O que é fé?




Queridos irmãos e irmãs,
Na quarta-feira passada, com o início do Ano da fé, dei início a uma nova série de catequeses sobre a fé. E hoje gostaria de meditar convosco sobre uma questão fundamental: o que é a fé? Ainda tem sentido a fé, num mundo em que ciência e técnica abriram horizontes até há pouco tempo impensáveis? O que significa crer hoje? Com efeito, no nosso tempo é necessária uma renovada educação para a fé, que inclua sem dúvida um conhecimento das suas verdades e dos acontecimentos da salvação, mas sobretudo que nasça de um encontro verdadeiro com Deus em Jesus Cristo, do amá-lo, do ter confiança nele, de modo que a vida inteira seja envolvida por Ele.
Hoje, juntamente com tantos sinais de bem, aumenta ao nosso redor um certo deserto espiritual. Às vezes tem-se como que a sensação, a partir de certos acontecimentos dos quais recebemos notícias todos os dias, que o mundo não caminha rumo à construção de uma comunidade mais fraterna e mais pacífica; as próprias ideias de progresso e de bem-estar mostram também as suas sombras. Não obstante a grandeza das descobertas da ciência e dos êxitos da técnica, hoje o homem não parece ter-se tornado verdadeiramente mais livre, mais humano; subsistem muitas formas de exploração, de manipulação, de violência, de prepotência, de injustiça... Além disso, um certo tipo de cultura educou a mover-se só no horizonte das coisas, do realizável, a acreditar unicamente naquilo que se vê e se toca com as próprias mãos. Mas por outro lado, aumenta também o número daqueles que se sentem desorientados e, na tentativa de ir além de uma visão apenas horizontal da realidade, estão dispostos a crer em tudo e no seu contrário. Neste contexto sobressaem algumas interrogações fundamentais, que são muito mais concretas do que parecem à primeira vista: que sentido tem viver? Há um futuro para o homem, para nós e para as novas gerações? Para que rumo orientar as opções da nossa liberdade, para um êxito bom e feliz da vida? O que nos espera além do limiar da morte?
Destas interrogações insuprimíveis sobressai que o mundo da planificação, do cálculo exacto e da experimentação, em síntese o saber da ciência, embora seja importante para a vida do homem, sozinho não é suficiente. Temos necessidade não só do pão material, mas precisamos de amor, de significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que nos ajude a viver com um sentido autêntico também na crise, nas obscuridades, nas dificuldades e nos problemas quotidianos. A fé oferece-nos precisamente isto: é um entregar-se confiante a um «Tu», que é Deus, o qual me confere uma certeza diversa, mas não menos sólida do que aquela que me deriva do cálculo exacto ou da ciência. A fé não é simples assentimento intelectual do homem a verdades particulares sobre Deus; é um gesto mediante o qual me confio livremente a um Deus que é Pai e que me ama; é adesão a um «Tu» que me dá esperança e confiança. Sem dúvida, esta adesão a Deus não está isenta de conteúdos: com ela estamos conscientes de que o próprio Deus nos é indicado em Cristo, mostrou o seu rosto e fez-se realmente próximo de cada um de nós. Aliás, Deus revelou que o seu amor pelo homem, por cada um de nós, é incomensurável: na Cruz, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus que se fez homem, mostra-nos do modo mais luminoso até que ponto chega este amor, até ao dom de si mesmo, até ao sacrifício total. Com o mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, Deus desce até ao fundo na nossa humanidade, para lha restituir, para a elevar à sua altura. A fé é crer neste amor de Deus que não diminui diante da maldade do homem, perante o mal e a morte, mas é capaz de transformar todas as formas de escravidão, oferecendo a possibilidade da salvação. Então, ter fé é encontrar este «Tu», Deus, que me sustém e me faz a promessa de um amor indestrutível, que não só aspira à eternidade, mas também a concede; é confiar-me a Deus com a atitude da criança, a qual sabe bem que todas as suas dificuldades, todos os seus problemas estão salvaguardados no «tu» da mãe. E esta possibilidade de salvação através da fé é um dom que Deus oferece a todos os homens. Penso que deveríamos meditar mais frequentemente — na nossa vida quotidiana, caracterizada por problemas e situações por vezes dramáticas — sobre o facto de que crer cristãmente significa este abandonar-se com confiança ao sentido profundo que me sustém, a mim e ao mundo, àquele sentido que não somos capazes de nos darmos a nós mesmos, mas só de receber como dádiva, e que é o fundamento sobre o qual podemos viver sem temor. Temos que ser capazes de anunciar com a palavra e de mostrar com a nossa vida cristã esta certeza libertadora e tranquilizadora da fé.
Contudo, ao nosso redor vemos todos os dias que muitos permanecem indiferentes, ou rejeitam aceitar este anúncio. No final do Evangelho de Marcos, hoje temos palavras duras do Ressuscitado, que diz: «Quem crer e for baptizado será salvo, mas quem não crer será condenado» (Mc 16, 16), perder-se-á a si mesmo. Gostaria de vos convidar a meditar sobre isto. A confiança na acção do Espírito Santo deve impelir-nos sempre a ir e anunciar o Evangelho, ao testemunho corajoso da fé; mas para além da possibilidade de uma resposta positiva ao dom da fé há inclusive o risco da rejeição do Evangelho, do não-acolhimento do encontro vital com Cristo. Já santo Agostinho apresentava este problema num seu comentário à parábola do semeador: «Nós falamos — dizia — lançamos a semente, espalhamos a semente. Há aqueles que desprezam, aqueles que repreendem, aqueles que zombam. Se os tememos, não teremos mais nada para semear, e no dia da ceifa permaneceremos sem colheita. Por isso, venha a semente da terra boa» (Discursos sobre a disciplina cristã, 13, 14: pl 40, 677-678). Portanto, a rejeição não nos pode desencorajar. Como cristãos, somos testemunhas deste terreno fértil: apesar dos nossos limites, a nossa fé demonstra que existe a terra boa, onde a semente da Palavra de Deus produz frutos abundantes de justiça, de paz e de amor, de uma nova humanidade, de salvação. E toda a história da Igreja, com todos os problemas, demonstra também que existe a terra boa, que existe a semente boa, e dá fruto.
Mas perguntemo-nos: de onde haure o homem aquela abertura do coração e da mente, para acreditar no Deus que se tornou visível em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, para acolher a sua salvação, de tal modo que Ele e o seu Evangelho sejam guia e luz da existência? Resposta: nós podemos crer em Deus, porque Ele se aproxima de nós e nos toca, porque o Espírito Santo, dom do Ressuscitado, nos torna capazes de acolher o Deus vivo. Então, a fé é antes de tudo uma dádiva sobrenatural, um dom de Deus. O Concílio Vaticano II afirma: «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá “a todos a suavidade em aceitar e crer na verdade”» (Constituição dogmática Dei Verbum, 5). Na base do nosso caminho de fé está o Baptismo, o sacramento que nos confere o Espírito Santo, tornando-nos filhos de Deus em Cristo, e marca a entrada na comunidade da fé, na Igreja: não cremos por nós mesmos, sem a prevenção da graça do Espírito; e não cremos sozinhos, mas juntamente com os irmãos. Do Baptismo em diante, cada crente é chamado a reviver e fazer sua esta profissão de fé, com os irmãos.
A fé é dom de Deus, mas é também acto profundamente livre e humano. O Catecismo da Igreja Católica afirma-o claramente: «O acto de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não é menos verdade que crer é um acto autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem» (n. 154). Aliás, envolve-as e exalta-as, numa aposta de vida que é como que um êxodo, ou seja um sair de nós mesmos, das nossas seguranças, dos nossos esquemas mentais, para nos confiarmos à acção de Deus que nos indica o seu caminho para alcançar a liberdade verdadeira, a nossa identidade humana, a alegria do coração, a paz com todos. Crer é confiar-se com toda a liberdade e com alegria ao desígnio providencial de Deus sobre a história, como fez o patriarca Abraão, como fez Maria de Nazaré. Então, a fé é um assentimento com que a nossa mente e o nosso coração dizem o seu «sim» a Deus, professando que Jesus é o Senhor. E este «sim» transforma a vida, abre-lhe o caminho rumo a uma plenitude de significado, tornando-a assim nova, rica de júbilo e de esperança confiável.
Caros amigos, o nosso tempo exige cristãos que tenham sido arrebatados por Cristo, que cresçam na fé graças à familiaridade com a Sagrada Escritura e com os Sacramentos. Pessoas que sejam quase um livro aberto que narra a experiência da vida nova no Espírito, a presença daquele Deus que nos sustém no caminho e nos abre para a vida que nunca mais terá fim. Obrigado!

Fonte: http://www.vatican.va/phome_po.htm

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Cristianismo, “mais do que uma moral ou uma ética, é um acontecimento de amor”




Bento XVI afirmou durante a catequese de 14/11/2012, no Vaticano, que o Cristianismo é mais do que uma “ética” ou conjunto de"crenças", alertando para as consequências do que definiu como “ateísmo prático” na sociedade.

“Muitos têm uma concepção limitada da fé cristã, porque a identificam com um mero sistema de crenças e de valores e não tanto com a verdade de um Deus que se revelou na história, desejoso de comunicar com o homem diretamente, numa relação de amor”, disse o Papa, na audiência pública semanal que decorreu na sala Paulo VI.

Segundo Bento XVI, o Cristianismo, “mais do que uma moral ou uma ética, é um acontecimento de amor”, na relação com a “pessoa de Jesus”.

“Há, de fato, uma forma de ateísmo que definimos como ‘prático’, no qual não se negam a verdade da fé ou os ritos religiosos, mas simplesmente se consideram irrelevantes para a existência cotidiana”, precisou. Bento XVI defende que este viver ‘como se Deus não existisse’ acaba por ser “ainda mais destruidor” do que a recusa do divino,“porque leva à indiferença em relação à fé e à questão de Deus”.

O Papa destacou que a crítica à religião se “intensificou” desde o Iluminismo e que a história recente da humanidade está marcada pela “presença de sistemas ateístas, nos quais Deus era considerado uma mera projeção do espírito humano, uma ilusão e o produto de uma sociedade já falseada por tantas alienações”.

“O século passado conheceu, depois, um forte processo de secularismo, em nome da autonomia absoluta do homem, considerado como medida e artífice da realidade, mas empobrecido do seu ser criatura ‘à imagem e semelhança de Deus’”, acrescentou.

Em português, Bento XVI disse que “o homem traz consigo um irreprimível desejo de Deus”, pelo que é necessário “ver as vias” que levam ao seu conhecimento, resumidas em três palavras: “o mundo, o homem e a fé”.

“Numa sociedade em que o ateísmo, ceticismo e indiferentismo não cessam de questionar e pôr à prova a fé, é importante afirmar que existem sinais que abrem o coração do homem e o levam para Deus”, declarou.

Lembrando que no passado, num Ocidente tido como cristão, “a fé era o ambiente que as pessoas se moviam”, a intervenção papal destacou que hoje “a situação mudou e cada vez mais os crentes têm de ser capazes de dar razões da sua fé”.

O Papa afirmou que é possível ver “uma inteligência, que é Deus”, na beleza e estrutura da criação, e também no “íntimo” de cada um, descobrindo a “sede de infinito” que impele a “avançar cada vez mais na direção de Deus”.

“Neste Ano da Fé, procurai conhecer mais Cristo, único caminho verdadeiro que conduz a Deus, para poder depois transmitir aos demais a alegria desse encontro transformador. Possa Ele iluminar e abençoar as vossas vidas”, disse Bento XVI aos peregrinos de língua portuguesa.

Fonte: http://deusdeternura.blogspot.com.br

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Para alcançar a fé: algumas reflexões




1  A fé: um alegria renovada

Beleza tão antiga e tão nova

Uma das páginas mais comoventes do livro das Confissões  de Santo Agostinho é a oração que dirige a Deus, com um misto de alegria e de dor, ao lembrar-se das hesitações e as demoras que atrasaram a sua conversão:
«Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te procurava fora: lançava-me transtornado sobre as belezas que tu criaste.  Tu estavas comigo, e eu não estava contigo. Seguravam-me longe de ti as coisas criadas que, se não fossem sustentadas por ti, nem mesmo existiriam. Chamaste, clamaste e rompeste a minha surdez; brilhaste, resplandeceste, e a tua luz afugentou a minha cegueira; exalaste o teu perfume e respirei, suspirei por ti; saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti; Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo da tua paz» (liv. 10, 27).
Santo Agostinho sentiu, desde muito jovem, uma sede ardente de felicidade, de amor, de verdade. Percorreu aos trambolhões um longo caminho de procura. Foi sincero. Por isso Deus ouviu as suas súplicas e lhe deu a resposta, acendendo-lhe na alma a luz da fé em Cristo. A partir desse instante, foi invadido por uma alegria que nunca mais iria abandoná-lo.
«Senhor…, fizeste-nos para ti e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em ti», escrevia no começo das suas Confissões. Descansou na fé e no amor. Essa foi a sua experiência.
Alegria! Paz! Todos nós as desejamos… e como nos custa encontrá-las. Continuam a ser para nós um tesouro escondido (cf. Mt 13, 44). E, no entanto, poderíamos achá-las se nos puséssemos em condições de alcançar a graça da fé.

Não renunciemos a essa alegria
Não o incentiva pensar que a Bíblia, o Novo Testamento, nos mostra que a alegria autêntica é inseparável da fé?
Lembre. Jesus acabava de nascer e já houve uns homens, os Magos, que, acolhendo com fé o sinal profético de uma estrela, empreenderam um  duro caminho. São Mateus conta assim o final dessa aventura:
E eis que a estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou. Ao verem a estrela – ao acharem Jesus –, sentiram uma imensa alegria (Mt 2,9-10). O tamanho dessa alegria deduz-se do texto original do Evangelho, que é difícil reproduzir com exatidão: Alegraram-se com uma alegria muito grande, e muito! Uma explosão de alegria no coração.
Lembremos também outro relato do Novo Testamento. A comunidade cristã acabava de nascer e já sofria perseguição. Como é que viviam a fé? São Pedro o conta: Este Jesus vós o amais sem o terdes visto; credes nele sem o verdes ainda, e isto é para vós a fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque estais certos de obter, como preço da vossa fé, a salvação de vossas almas  (1 Ped 1,8-9).
Os testemunhos sobre a alegria da fé são inúmeros. Quero trazer agora apenas um de tempo relativamente recente, o do jornalista André Frossard. Era filho do primeiro Secretário geral do Partido Comunista francês, e foi criado totalmente à margem da religião. Entrou um dia por acaso numa igreja, ponto de espera marcado por um amigo.  De repente, instantaneamente, Deus o atingiu com a sua graça, e passou a crer sem nenhuma dúvida, a crer em “todas” as verdades da fé católica. Foi um milagre do amor de Deus, que jamais esqueceria. Assim o comentava posteriormente:
«Como esquecer o dia em que, numa capela subitamente rasgada de luz, se descobre o amor ignorado pelo qual se ama e  se respira, em que se aprende que o homem não está só, que uma presença invisível o penetra, o rodeia e o espera, que para lá dos sentidos e da imaginação existe um outro mundo, em comparação com o qual este universo material, por mais belo que seja e por mais atrativo que se apresente, não passa de vaga neblina e reflexo distante da beleza que o criou» (Há um outro mundo, Quadrante 2003).

O Ano da Fé

Como já sabe, estamos no Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI em 11 de outubro de 2011, com a Carta Apostólica Porta fidei (“A porta da pé”), comemorando os 50 anos do início do Concílio Vaticano II e 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica. Vai terminar na Solenidade de Cristo Rei, 24 de novembro de 2013.
A carta Porta fidei incentiva-nos a desejar ter ou aumentar a nossa fé. Fala da «necessidade de redescobrir o caminho da fé, para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo» (n. 2).
Na audiência da quarta-feira 10 de outubro de 2012, véspera do início deste Ano da Fé, o Papa voltou a exortar-nos a «redescobrir cada dia a beleza da nossa fé». No dia seguinte, inaugurando o Ano da Fé, voltava a referir-se em uma homilia à «alegria de crer e à sua importância vital para nós, homens e mulheres». E, poucos dias depois, na audiência da quarta-feira 17 de outubro, anunciou o seu propósito de dedicar, neste Ano da Fé, as alocuções das quartas-feiras à catequese sobre o tema da fé: «Quereria – dizia –que fizéssemos um caminho para reforçar ou reencontrar a alegria da fé, compreendendo que a fé não é algo alheio, separado da vida concreta, mas é a sua alma». Não deixe de ler, se puder, essas catequeses de Bento XVI, que pode encontrar no site www.vatican.va [em “Ano da fé” ou “Audiências”], e no site www.zenit.org, entre outros.

Desejo de alimentar nossa fé

Na Carta Porta fidei [veja site do Vaticano, “Motu próprio”] o Papa faz um resumo sintético das finalidades dste ano: «Descobrir novamente os conteúdos da fé professada (as verdades da fé), da fé celebrada (nos Sacramentos), da fé vivida (na conduta, na vida real, na vida moral), e da fé rezada (da oração e da vida de oração)» (Porta fidei, n. 9).
Se você conhece o Catecismo da Igreja Católica, deve ter observado que, em poucas palavras, o Papa menciona as quatro partes em que o Catecismo se divide: I. A profissão da fé; II. A celebração do mistério cristão; III. A vida em Cristo; IV. A oração cristã.
É natural, pois, que a Carta Porta fidei insista em que «o Ano da Fé deverá exprimir umesforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica [...]. Na sua própria estrutura, o Catecismo da Igreja Católica apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária» (n. 11).
Todos somos conclamados, portanto, a estudar e a difundir o conteúdo – assimilado, esmiuçado, traduzido em linguagem acessível – do Catecismo da Igreja e do seuCompêndio, bem como a redescobrir os documentos do Concílio Vaticano II.
Deixe-me acabar esse trecho com uma pergunta: Você vai fazer alguma coisa? O que poderia fazer para aprofundar e dar a conhecer a “doutrina” católica, os “conteúdos” da fé?

2 . Desejo da fé, oração pela fé

Todos os milagres que Cristo fez, nos corpos ou nos elementos materiais, simbolizam os que Ele faz nas almas mediante a graça do Espírito Santo. Por isso, São João chamasinais os milagres de Jesus.
Dentre eles, as curas dos cegos simbolizam a luz da fé que Cristo traz aos olhos da alma. Assim o lembrava Bento XVI na homilia de encerramento do Sínodo dos Bispos, em 28 de outubro de 2012: «Sabemos que a condição de cegueira tem um significado denso nos Evangelhos. Representa o homem que tem necessidade da luz de Deus – a luz da fé – para conhecer verdadeiramente a realidade e caminhar pela estrada da vida».
Vejamos brevemente o “sinal” da cura do cego de Jericó, a que o Papa se referiu nessa homilia.
O cego Bartimeu
Estava Jesus de passagem pela cidade de Jericó. À porta da cidade achava-se um mendigo cego chamado Bartimeu, pedindo esmola. Ouvindo a multidão que passava – acompanhando Jesus –, perguntou o que havia. Responderam-lhe: “É Jesus de Nazaré, que passa”. Ele então exclamou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim” (Lc 18, 36-38).
Quando os olhos da alma estão cegos e não vemos a luz de Deus, somos semelhantes a Bartimeu. Só temos noções imperfeitas das coisas de Deus, da vida e do mundo: somos cegos, ainda que pensemos que enxergamos bem; ficamos parados, ainda que creiamos que avançamos; não conseguimos usufruir os verdadeiros bens da vida, por mais que procuremos espremer os prazeres até a última gota; e não percebemos que tudo o que coseguimos não passa de migalhas de «mendigo do sentido da vida», como diz o Papa …
Podemos dizer que estamos satisfeitos? Não é verdade que muitas vezes, na solidão e no silêncio, temos vontade de chorar sem saber por quê, pois sentimos um estranho vazio, uma pobreza, uma escuridão inexplicável? Santo Agostinho pode projetar luz sobre a nossa cegueira. Relembremos as palavras que citávamos no ítem anterior: «Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em ti».
O Catecismo da Igreja Católica, que Bento XVI aconselha como chave-de-luz para este Ano da Fé, diz uma grande verdade: «O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar» (n. 27).
O Papa, glosando esse texto do Catecismo na audiência de 7 de novembro de 2012, comentava que em inúmeras pessoas esse desejo é inconsciente, mas que a graça de Deus pode se servir dele para que vão percebendo que só na fé está a verdadeira resposta para a felicidade que seu coração anseia: «Mesmo quando esse desejo caminha por rumos extraviados – dizia o Papa –, quando segue paraísos artificiais e parece perder a capacidade de ansiar pelo verdadeiro bem, mesmo no abismo do pecado, não se apaga no homem aquela faísca que lhe permite reconhecer o bem autêntico, saboreá-lo, e começar assim um percurso de subida, no qual Deus, com o dom da sua graça, não deixa nunca faltar a sua ajuda… Não se trata portanto de sufocar o desejo que está no coração do homem, mas de libertá-lo, para que possa alcançar a sua verdadeira altura».

Que eu veja!

O primeiro passo para sairmos da cegueira, ou da miopia, consiste em termos a humildade de reconhecer a nossa indigência: «Condição essencial – dizia o Papa na homilia citada acima – é reconhecer-se cego, necessitado dessa luz; caso contrário, permanece-se cego para sempre (cf. Jo 9,34-41)».
Bartimeu sentia a dor da sua condição de mendigo e desejava ardentemente ver: por isso pediu, insistiu, e não parou até conseguir que Jesus o atendesse. “Que queres que te faça?” –  Respondeu-lhe: “Senhor, que eu veja”. Jesus lhe disse: “Vê: a tua fé te salvou”. E imediatamente ficou vendo, e seguia Jesus, glorificando a Deus (Lc 18,41-43).
Você não quer pedir “Senhor, faz com que eu veja”? Creia que não há ninguém que o tenha pedido com sinceridade e tenha ficado sem uma resposta.
Santo Agostinho, antes da conversão, rezava assim: «A ti, meu Deus, se elevam meus suspiros, e peço-te uma e outra vez asas para subir até ti. Se tu me abandonares, logo a morte se abaterá sobre mim…» (Solilóquios, n.6).
Pedia porque reconhecia que precisava de Deus, ainda que não tivesse a coragem de abraçar a fé e de seguir-lhe o caminho. Da mesma forma, São Clemente de Alexandria, que o Papa cita, fazia a seguinte oração: «Até agora andei errante na esperança de encontrar Deus, mas porque tu me iluminas, ó Senhor Jesus, encontro Deus por meio de ti, e de ti recebo o Pai, torno-me herdeiro contigo, porque não te envergonhaste de me ter por irmão. Cancelemos, portanto, cancelemos o esquecimento da verdade, a ignorância…» (Protréptico, 113 ss.)
Nos tempos modernos, vale a pena evocar a conversão do Beato Charles de Foucauld. Esse aristocrata ateu foi um devasso esbanjador; estudou a carreira militar na Academia de Saint Cyr, e foi oficial, explorador científico e aventureiro no norte da África.
Após anos de vida intensa e de toda a sorte de experiências, o vazio da sua alma revelou-se-lhe de maneira aguda e o derrubou (Deus agia na noite do seu coração). Voltou à França e estando em Paris, em 1886, sentiu um tremendo puxão interior que o impelia, mesmo descrente, a ir a uma igreja. «Comecei a ir à igreja, sem ter fé. Experimentei que só me sentia bem lá, ficando longas horas a repetir essa estranha prece: “Meu Deus, se tu existes, faz com que eu te conheça”».
A graça da fé o invadiu um dia e, com a ajuda do Pe. Huvelin – que teve a coragem de lhe dizer que, para receber o dom da fé, precisava antes confessar-se –, converteu-se e entregou-se totalmente a Deus. Viveu bastantes anos, pobre, paupérrimo, desprendido de tudo, como monge eremita, exercendo a caridade no meio das tribos tuaregs do Saara. Ninguém o acompanhou. Hoje milhares de cristãos em todo o mundo o têm como mestre e padroeiro.
Agradecido pelo dom recebido, fazia esta oração: «Como és bom, meu Deus, como me guardaste, como me agasalhaste à sombra das tuas asas quando eu nem acreditava na tua existência! … Como estou feliz! Meu Senhor Jesus, tu puseste em mim esse amor por ti, tão terno e crescente, esse gosto pela oração, essa fé na tua Palavra, esse sentimento profundo do dever da caridade, esse desejo de imitar-te, essa sede de oferecer-te em sacrifício o melhor que eu puder dar-te… Como tens sido bom! Como sou feliz![1].
Vamos, então, pedir fé com mais força
Vale a pena que, neste começo do Ano da Fé, examinemos com sinceridade os porões da nossa alma. Alguns dos que leiam estas palavras talvez não tenham fé. Outros a temos, mas que espécie de fé é a nossa? Será que já experimentamos, como consequência da fé, aquela alegria que ninguém pode tirar (cf. Jo 16,22)? Não? Então a nossa fé é fraca, pobre ou doente: ainda é uma “fé-mendigo”, que deve pedir esmola como o cego de Jericó.
Sendo assim pobres, façamos como os pedintes. Supliquemos com Bartimeu: “Jesus, tem piedade de mim…, que eu veja!”.
Esta é realmente a primeira coisa que precisamos fazer, porque a fé é um dom divino. Ninguém a consegue só com as suas forças.
Nestes começos do Ano da Fé, Bento XVI recorda-nos uma verdade que os catecismos já nos explicavam desde a nossa infância: «Perguntemo-nos – dizia o Papa na audiência de 24 de outubro de 2012 –: de onde haure o homem a abertura do coração e da mente para acreditar no Deus que se tornou visível em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, para acolher a sua salvação, de tal modo que Ele e o seu Evangelho sejam guia e luz da existência? Resposta: só podemos crer em Deus porque Ele se aproxima de nós e nos toca, porque o Espírito Santo, dom do Ressuscitado,  nos torna capazes de acolher o Deus vivo. Quer dizer que a fé é antes de tudo uma dádiva sobrenatural, um dom de Deus».
Acrescenta o Papa que «a fé é dom de Deus, mas é também ato profundamente livre e humano». Temos que esforçar-nos por pedir e corresponder.
Que eu veja! Tomara que nos decidamos a “querer”, a rezar, a pedir, anda que seja com a oração indecisa e descrente com que Foucauld começou. Os Salmos oferecem-nos muitas súplicas “prontas”, maravilhosas. Transcrevo agora apenas algumas, que talvez nos possam ajudar:
–  Como a corça anseia pelas fontes das águas, assim minha alma suspira por ti, ó meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! Quando irei ver a face de Deus? (Sl 41[42], 2-3).
– Escuta, Senhor, a voz da minha oração. Tem piedade de mim e ouve-me. Fala-te o meu coração; a minha face te procura. A tua face, ó Senhor, eu a procuro. Não escondas de mim o teu rosto (Sl 26[27], 7-9).
– Tenha Deus compaixão de nós e nos abençoe. Faça resplandecer sobre nós a luz da sua face! (Sl 66[67], 2).

Fonte: http://www.padrefaus.org

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Exame de consciência



 “DETESTAI O MAL, apegai-vos ao bem”, ensina São Paulo, em sua carta aos romanos (12, 9). Desde o princípio, a Igreja tinha esta consciência da importância do combate. A comunidade cristã deveria amar a Deus e ao próximo – como tinha ensinado nosso Senhor Jesus Cristo -, mas, ao mesmo tempo, e em decorrência deste amor ao sumo Bem, precisava cultivar um profundo ódio. Pelo mal e pelo pecado. Mais: a pregação apostólica pedia não só que o mal fosse detestado, mas também denunciado. É o que o mesmo São Paulo indica em sua carta aos fiéis de Éfeso: “Não tomeis parte nas obras estéreis das trevas, mas, pelo contrário, denunciai-as” (5, 11).
Neste sentido, é urgente que façamos um exame de consciência. Será que temos dado atenção às palavras do Apóstolo? Em nosso esforço para amar a Deus, temos detestado o mal? Em nossa vida apostólica, temos alertado as pessoas sobre o engano do pecado?
Se a nossa resposta para estes questionamentos for “não”, então estamos em dívida. Receosos de desagradar o mundo, muitos de nós temos pisado no Evangelho e zombado do Magistério da Igreja e das palavras do Papa.
Começa com um desejo de não “ferir os sentimentos” de ninguém. Os defensores do aborto chegam e mostram sua ideologia perversa; apesar de não assentirmos às suas ideias, vomitamos nossa covardia com um “o aborto é uma questão de saúde pública”. Os militantes homossexuais levantam a bandeira do casamento gay e fazem passeatas na Avenida Paulista; calamo-nos e deixamos que defequem suas imoralidades em nossas ruas, e quando perguntam qual a nossa opinião sobre o tema, limitamo-nos a um “cada um faz o que quiser da sua vida”.
A princípio, detestamos o mal. Mas, sem coragem para dizer isto dos telhados, e calados por uma mídia cada vez mais agressiva aos valores do Evangelho, vamos perdendo até mesmo a noção de bem e mal. Aderimos, lenta e gradativamente, a uma espécie de relativismo; e, então, passamos a integrar a grande massa religiosa que se diz católica, mas não vive sua fé; que se diz praticante, mas se restringe às Missas dominicais e a algumas novenas em tempos de dificuldade.
Muitos de nós andamos inertes, mas o nosso inimigo não dorme. Então, está na hora de acordar… O Cristianismo é a religião da paz, não do pacifismo. Se queremos a nossa salvação, e que “venha a nós o Reino de Deus”, como pedimos na oração do Pai-Nosso, é preciso que ajamos com violência, que lutemos contra os nossos pecados e “contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, os espíritos malignos espalhados pelo espaço” (Ef 6, 12). Não nos enganemos – é o próprio Cristo quem nos alerta: “o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12).
“Uma luta árdua contra o poder das trevas perpassa a história da humanidade. (…) Inserido nesta batalha, o homem deve lutar sempre para aderir ao bem; não consegue alcançar a unidade interior senão com grandes labutas e o auxílio da graça de Deus” (Gaudium et Spes, 37). Este Ano da Fé é ocasião bastante propícia para que façamos renascer em nós a chama da fé e o espírito de obediência ao Sumo Pontífice; além de pedir a Deus a coragem e a valentia de soldados. O mal existe; sua ação no mundo é visível. Se queremos realmente vencer com Cristo, devemos entregar-nos ao máximo… e vencer o nosso respeito humano.