domingo, 26 de fevereiro de 2012

Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma de 2012


«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras»
(Heb 10, 24)
Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de refletir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e, todavia, são objeto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o fato de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O fato de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje se é muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O fato de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de considerá-la na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e onipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a ação do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efetivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua.
Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre atual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011
Benedictus PP XVI

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Carnaval, de novo...

Estava na internet buscando recursos para escrever sobre essa festa que se aproxima e que deturpa a ordem natural do ser Humano, então no meio da minha busca encontrei esse texto do meu irmão em Cristo Fábio Luciano do Grupo de Resgate Anjos de Adoração - GRAA, no final segue o link para o blog do mesmo. Texto muito bom e mostra a verdade sobre essa festa e o caminho para um cristão. Entre esses caminhos temos os retiros espirituais, que deixo aqui o pedido de orações para o primeiro retiro de carnaval do movimento Treinamento de Liderança Cristã - T.L.C da Diocese de Penedo - AL. E fica o convite para participar do retiro! Deus nos quer por inteiro e não pedaços do nosso ser.  Boa leitura e reflexão, que nosso Criador nos conduza a conquista das alturas.




Por Fábio Luciano 

"Nestes dois últimos dias de carnaval conheci um grande acúmulo de castigos e pecados. O Senhor deu-me a conhecer num instante os pecados do mundo inteiro cometidos nestes dias. Desfaleci de terror e, apesar de conhecer toda a profundeza da misericórdia divina, admirei-me que Deus permita que a humanidade exista" (Santa Faustina, Diário 926)

E estamos novamente às portas desta festa profana que antecede o tempo santo da quaresma: o carnaval, a festa da carne, da carne contra o espírito, da carne contra a dignidade, do que há de mais baixo na carne, da degradação moral, da prostituição moral coletiva e celebrada como um tesouro nacional.

Em um tempo de materialismo e de hedonismo como o nosso, em que a realidade é identificada com aquilo que é captado pelos sentidos, o carnaval surge como uma ocasião em que esta realidade se adensa, em que a vida se torna mais "viva", e as pessoas darão livre curso à busca de prazeres, sem preocupar-se quando isto vai contra os limites do lícito.

No carnaval, identifica-se facilmente a presença da tríplice concupiscência: a dos olhos, que observam os atos imorais cometidos sem constrangimento e os corpos quase ou totalmente nus que desfilam e se ostentam; a da carne, que deseja imoralmente aquilo que é percebido pelos olhos e que procura criar oportunidades para as satisfações mais torpes; e a soberba da vida, que obscurece, na alma das pessoas, os limites morais, e faz com que elas acreditem ser absolutamente autônomas, criadoras de sua própria lei.

No carnaval, intensificam-se, também, as investidas dos três inimigos da alma: a carne, já referida, que se vê fragilizada e tentada à egoísta satisfação de seus desejos; o mundo, que divulga um falso ideal de felicidade e valoriza uma pessoa à medida em que ela se esvazia de seus escrúpulos e se lança a chafurdar na lavagem de impurezas que é esta festa; e o demônio, cuja existência tem sido desacreditada nesta nossa modernidade tão sábia e superior, o que somente facilita a sua investida contra os fautores e participantes desta bagunça.

Alguns dizem que o carnaval é uma ocasião conveniente de preparar-se para o tempo quaresmal, marcado pela sobriedade e gravidade. O pressuposto aqui é que a quaresma seria um tempo de tristeza e que a alegria é fruto de sensações intensas. Mas ambos são falsos. A quaresma pretende ser um tempo de maior proximidade com Deus. Logo, ela não deve conduzir, de nenhum modo, à tristeza. O carnaval, ao contrário, passados os quatro dias de devassidão, somente pode deixar na alma o gosto amargo da frustração, da ausência de sentido, da não correspondência aos desejos mais íntimos da alma humana. Isso pode ser percebido por quem ainda cultiva um mínimo de auto-exame.

A alegria não é fruto de intensas sensações. Primeiro, convém distinguir o prazer da alegria. Eles são muito diferentes, embora possam coexistir. O prazer, por si, não é mau; é bom. Deus foi quem nos deu os meios de experimentá-lo. Mas, por ser agradável e fácil de se produzir, tornou-se um instrumento do egoísmo e do pecado, que tentam manipulá-lo intensificando-o e estendendo-o. Daí as drogas, o sexo desregrado e todos os demais vícios.

É óbvio que, num contexto assim, embora possa existir o prazer, não poderá haver a alegria, que é algo espiritual. Nos tornamos alegres quando correspondemos ao que somos; é uma resposta da alma à verdade da vida. É por isso que, mesmo na dor - que impede o prazer -, pode haver alegria e, às vezes, uma alegria imensa. Nós deveríamos nos aproximar desta alegria na quaresma, que é um tempo em que combatemos mais acirradamente as nossas desordens com o fim de nos aproximarmos de Deus.

O carnaval, no entanto, somente pode proporcionar um baixo prazer, tão sólido quanto fumaça, e que só deixará um cheiro enjoado ao fim de quatro dias, e uma alma triste porque teve de contemplar e submeter-se ao que há de mais rasteiro.

Alguns dizem que não há problemas no carnaval se a pessoa não pretende imitar essas ilicitudes. De fato, não haveria problemas se se tratasse de uma festa comum. No entanto, o mero fato de estar lá, presente, faz com que a pessoa termine vendo e ouvindo o que não convém. Depois disto, continuar a defender uma suposta imunidade é o mesmo que não conhecer a natureza humana decaída, totalmente influenciável pela sensualidade.

Enfim, já é bem conhecida a posição católica sobre o assunto. Porém, neste nosso século orgulhoso e soberbo, não faltará quem tente amenizar as coisas, dizendo que não é bem assim, que o Carnaval é algo legal e não sei que mais. É como eu disse: se fosse uma festa comum, em que as pessoas apenas se divertissem sem apelos à sensualidade e sem músicas toscas, a coisa seria, sim, lícita. Quem deseja festejar em casa, com os amigos, não tem nada do que se envergonhar, desde que cuide para não promover impurezas.

Mas, a meu ver, o mais adequado é, mesmo, participar de retiros espirituais ou viajar para locais mais ou menos isentos desse barulho e, claro, nem ligar a Tv.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Filantropia x Caridade

SOBRE A CARIDADE
pelo 
Papa Pio XII
São Vicente de Paula

Caridade. Caridade é a palavra às vezes usada livremente para significar uma espécie qualquer de atividade benévola ou filantrópica. Mas caridade tem um significado sacro e consagrado. A caridade é diversa de qualquer outro amor humano porque é uma réplica do amor de Cristo para com o homem. "Dou-vos um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros" "que vos ameis um ao outro como Eu vos amei". Isto é caridade. São Paulo escreve aos Romanos (15, 7) "Ajudai-vos uns aos outros como Cristo vos ajudou para a glória de Deus". Isto é caridade.
Amar-vos-eis uns aos outros, disse Cristo, como Eu vos amei a vós - "não como amam aqueles que corrompem a inocência ou a fé" comenta o imortal Agostinho (ln Joannis Evang. trato 65 c 13 - Migne PL t. 35 col. 1808-1809); "não como os homens se amam uns aos outros, simplesmente porque são membros da mesma raça humana, mas como amam quantos sabem e professam que todos os homens são filhos de Deus, filhos do Altíssimo no qual se deve formar e aperfeiçoar à semelhança de irmão do único Filho gerado".
"Amar-vos-eis uns aos outros como Eu vos amei." E que coisa amou Cristo no homem, senão Deus? Não no sentido em que Ele encontrou Deus em cada homem, mas no sentido que Ele esperou, através do amor, restaurar Deus em cada homem. Diz-se que um doutor ama o doente; mas então que é que ele ama no doente? Certamente não a doença. Não, ele ama a saúde, que espera dar novamente ao paciente. A caridade significa que vos ameis reciprocamente de modo tal a levar Deus sempre mais na vida de cada um, de modo que ligados pelo Espírito do Amor divino possam colaborar na formação de um corpo não indigno da Cabeça divina.
A semelhança do viajante de que fala o Evangelho, a raça humana caiu entre ladrões que roubam os seus tesouros de fé e de amor e deixam-na perecer na necessidade.
Leigos do mundo avizinhai-vos deste grande inválido: E enquanto levais para ele o pão para nutrir o corpo e vos esforçais pessoalmente para providenciar às suas variadas necessidades, juntamente com o bom samaritano inclinai-vos e tentai gentilmente lenir suas feridas e verter sobre elas o óleo da mensagem consoladora de Cristo. Sussurrai no ouvido, de há muito talvez surdo ao conselho sacerdotal, palavras de encorajamento, de esperança e de paz e o exemplo do vosso amor cristão apressará o dia em que uma vítima amargurada pela dor ou pelo insucesso ou pela injustiça retornará àqueles que Deus constituiu guardiões e médicos das almas.
Oh, nós sabemos o imenso bem que as Conferências e as demais Caridades Cristãs estão fazendo em muitas paróquias e Nós as abençoamos de todo coração. A caridade, porém, não deve jamais olhar para trás, mas sempre para frente.
O número das obras realizadas é sempre pequeno enquanto que as misérias presentes e futuras que ocorre consolar, são sem fim.
Nós desejaríamos ver todos os jovens unidos na mente e no coração em alguma obra de caridade cristã. Não se trata de dar dinheiro: trata-se de dar a si mesmos. Tal apostolado reavivar-lhes-ia a fé, daria direção e estabilidade a uma correta atitude diante das coisas frívolas da vida, acordaria a potência do exemplo e contribuiria potentemente para remediar os males da desigualdade social e de raça.

Ó coração misericordioso de Jesus, verte o teu amor e conforto na vida dos pobres, dos sofredores, de quantos estão afligidos no corpo e na alma, de quantos são membros caros do Teu Corpo (1).

(1) Rádio-mensagem ao Continente Americano, 12 de outubro, 1917. 

Fonte: Pio XII e os problemas do mundo moderno, tradução e adaptação do Padre José Marins, 2.ª Edição, edições Melhoramentos.
PS.: Grifos meus.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Renova a alegria de lutar


Em certos momentos, oprime-te um começo de desânimo, que mata todo o seu entusiasmo, e que mal consegues vencer à força de atos de esperança. - Não tem importância: é a hora boa de pedires mais graça a Deus, e para a frente! Renova a alegria de lutar, ainda que percas uma escaramuça. (Sulco, 77)

01 de fevereiro de 2000

Com monótona cadência, o ritornello já tão surrado de que a esperança é a última que morre; como se a esperança fosse uma muleta para se continuar perambulando sem complicações, sem inquietações de consciência; ou como se fosse um expediente que permitisse adiar sine die a oportunidade de retificar a conduta, a luta por atingir metas nobres e, sobretudo, o fim supremo da união com Deus. 

Eu diria que esse é o caminho para confundir a esperança com o comodismo. No fundo, não se está ansioso por conseguir um verdadeiro bem, nem espiritual nem material legítimo; a pretensão mais alta de alguns se reduz, assim, a furtar-se ao que possa alterar a tranqüilidade - aparente - de uma existência medíocre. Com uma alma tímida, encolhida, preguiçosa, a criatura enche-se de egoísmos sutis e conforma-se com que os dias, os anos, transcorram sine spe nec metu, sem esperança nem medo, sem aspirações que exijam esforços, sem os sobressaltos da peleja: o que interessa é evitar o risco do desaire e das lágrimas. Que longe se está de obter alguma coisa, se malogrou o desejo de possuí-la, por medo às exigências que a sua conquista implica! (Amigos de Deus, 207)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

* Protestante “ora”, católico “reza”. Meu Deus, quanta desinformação!





Ivanildo Oliveira Junior
Quantas vezes você já não ouviu esse paralelo ignorante que alguns protestantes fazem em relação a essas palavras? Quantas vezes você já não foi questionado a respeito de seu uso e desuso e, por fim, quantos de nós católicos também caem nessa falácia de que uma difere e profana a outra. ESTUPIDEZ e IGNORÂNCIA. Veremos que isso nada tem haver com que uma grande parte da população atual menciona como certo e errado.
Vermelho ou encarnado? Um termo vale o outro, com a diferença de que “vermelho” é da língua literária, “encarnado” da língua popular. Igualmente, “oração” é palavra clássica, ao passo que “reza” é da língua caseira. Mas o mesmíssimo significado: A elevação da mente e do coração a Deus, para o adorar, agradecer e pedir-lhe as graças de que necessitamos. É somente isto a vontade de Deus, não lhe interessa o som das palavras, diferentes nas várias línguas.
Isso vale aqueles que, destituídos de um mínimo de cultura ou honestidade intelectual, fazem das duas palavras, “oração” e “reza”, um cavalo de batalha. “Nós oramos os católicos rezam: logo, os católicos estão errados”. Os desinformados e/ou desonestos precisam saber que “oração” “orar” (sem necessidade de remontar ao hebraico “Or” (Luz)), são palavras originadas do latim, língua de Roma e, portanto, língua legítima da Igreja Católica: (Oratio , orare). Até a aparição dos primeiros protestantes (1520), foram de exclusividade nossa, na liturgia da Igreja Ocidental. Querer vender-nos o que é nosso é crime de estelionato!
Sendo um pouco mais específico Orar vem do latim orare; e rezar, do latim recitare, que também deu em português recitar. Já em latim, os verbos orare e recitare têm sentidos muito próximos: o primeiro significa “pronunciar uma fórmula ritual, uma oração, uma defesa em juízo”; o segundo, “ler em voz alta e clara” (portanto, o mesmo que em português recitar). Entretanto, para orare prevaleceu na latinidade e nas línguas românicas o sentido de rezar, isto é, dizer ou fazer uma oração ou súplica religiosa (cfr. A. Ernout–A. Meillet,Dictionnaire étymologique de la langue latine — Histoire des mots, Klincksieck, Paris, 4ª ed., 1979, p. 469). Nós, católicos, damos ao verbo rezar um sentido bastante amplo e genérico, e reservamos a palavra oração mais especialmente — mas não exclusivamente — para os diversos gêneros de oração mental, como a meditação, a contemplação etc. Não há razão, portanto, para fazer dessa ligeira diferença, comum nos sinônimos, um tema de disputas.
Os protestantes, entretanto, salientam a diferença por dois motivos. Primeiro, porque para eles serve de senha. Com efeito, acentuando arbitrariamente essa pequena diferença de matiz entre as palavras, eles utilizam orar em vez de rezar, e assim imediatamente se identificam como crentes (como diziam até há pouco) ou evangélicos (como preferem dizer agora). Isso tem a vantagem, para eles, de detectar entre os circunstantes os outros protestantes que ali estejam. É um expediente ao qual recorrem todas as seitas dotadas de um forte desejo de expansão, como é o caso dos protestantes no Brasil.
Por outro lado, a oração, para os protestantes, não tem o mesmo alcance que para nós, católicos. Enquanto para nós o termo oração engloba todos os gêneros de oração — desde a oração de petição até as orações de louvor e glorificação de Deus — os protestantes esvaziam a necessidade da oração de petição, que para eles tem pouco ou nenhum sentido. Com efeito, como nós, católicos, sabemos, a vida nesta Terra é uma luta árdua, em que devemos pedir a Deus em primeiro lugar os bens eternos, e depois os bens terrenos de que temos necessidade. É o que ensinou Nosso Senhor Jesus Cristo.
Até ontem, quando a Missa era em latim, assim como ainda hoje em boa língua portuguesa, o termo clássico era de uso comum, durante a Missa e ouvirão, mais de uma vez, o convite do celebrante: “Oremos!” E, uma vez o solene: “Orai irmãos para que nosso sacrifício seja aceito por Deus Pai, Todo Poderoso”. Dizer que a Igreja não ora é no mínimo preguiça de pesquisar a verdade, a Igreja nunca fez distinção entre uma coisa e outra, pois via e continua a ver o mesmo significado em ambas as palavras, o que sempre foi real, os santos e santas que nos antecederam assim já nos demonstravam:
“Depois que ficava em oração, via que saia dela muito melhorada e mais forte.” Santa Teresa d’Ávila
“Assim como necessitamos continuamente da respiração, assim também temos necessidade do auxílio de Deus; porém se queremos, facilmente podemos atraí-lo pela oração.” São João Crisóstomo
“Ora et Labora!”Reza e trabalha! São Bento”
“Sabe viver bem quem sabe rezar bem.” Santo Afonso Maria de Ligório
 “A oração consiste em tratar a Deus como um pai, um irmão, um Senhor e um Esposo.” Santa Teresinha
Quem começou a rezar não deve interromper a oração, em que pesem os pecados cometidos
Com a oração poderá logo soerguer-se, ao passo que sem ela ser-lhe-á muito difícil. “Não deixe que o demônio o tente a abandonar a oração por humildade” Santa Teresinha
Podemos perceber então que tal distinção não fazia e nunca fez parte da vida religiosa dos santos e santas da Igreja, como então continuarmos com esse paralelismo que, até entre os católicos hoje existe? Basta parar de acreditar na primeira besteira que se ouve e buscar a Sabedoria da Igreja de dois mil anos, que tem todas as respostas necessárias
Ainda neste contexto perceberemos que nem mesmo o Catecismo da Igreja Católica difere uma coisa da outra, pois ao utilizar ambas demonstra que não existe e nunca existiu diferentes significados, podendo assim serem usadas sem problema algum de cometer um dito “erro”, vejamos:
“A Oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus nos bens convenientes. De onde falamos nós, ao rezar?…” CIC 2559
“[...] Os Salmos alimentam e exprimem a oração do povo de Deus como assembléia, por ocasião das grandes festas em Jerusalém e cada sábado nas sinagogas. [...] Rezados e realizados em Cristo, os Salmos são sempre essenciais à oração de Sua Igreja.” CIC 2586
A oração não se reduz ao surgir espontâneo de um impulso interior; para rezar é preciso querer. “Não basta saber o que as Escrituras revelam sobre a oração; também é indispensável aprender a rezar, E é por uma transmissão viva (a Sagrada Tradição) que o Espírito Santo, na ‘Igreja crente e orante’, ensina os filhos de Deus a rezar.” CIC 2650
Fica evidente então a Sabedoria da Igreja e a Verdade que nela, através de Nosso Senhor, se expressa. Em outra Crítica protestante acerca da prática de tais palavras veremos, a seguir, o cuidado que devemos ter
A CRÍTICA PROTESTANTE A RESPEITO DAS PALAVRAS REPETIDAS
Para sustentar que “não devemos orar repetidas vezes”, os protestantes, como diz a missivista, apelam para a Bíblia. Provavelmente se referem ao Evangelho de São Mateus (6,7): “Nas vossas orações, não queirais usar muitas palavras, como os pagãos, pois julgam que, pelo seu muito falar, serão ouvidos”.
A interpretação deste texto de São Mateus não é entretanto a que os protestantes lhe dão. Ele significa simplesmente que a eficácia da oração não decorre da loquacidade, mas sobretudo das boas disposições do coração. As disposições sendo boas, em princípio, quanto mais se reza, melhor! E o próprio Jesus Cristo Nosso Senhor deu o exemplo de uma oração longa e repetitiva no Horto das Oliveiras, quando, prostrado com o rosto em terra, rezou por mais de uma hora, dizendo: Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice; mas não se faça a minha vontade, e sim a vossa (cfr. Mt 26, 39-44; Lc 22, 41-45).
Quanto à necessidade da insistência na oração, no Evangelho de São Lucas (11, 5-8) se lê a impressionante lição do Divino Mestre: “Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, porque um meu amigo acaba de chegar a minha casa de viagem, e não tenho nada que lhe dar; e ele, respondendo lá de dentro, disser: Não me sejas importuno, a porta já está fechada, e os meus filhos estão deitados comigo; não me posso levantar para te dar coisa alguma. E, se o outro perseverar em bater, digo-vos que, ainda que ele se não levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua importunação se levantará, e lhe dará quantos pães precisar”.
A reiteração de nossos pedidos a Deus deve pois chegar a esse ponto da importunação, segundo o conselho do mesmo Nosso Senhor. E por aí se vê como os protestantes, abandonando a sabedoria da Igreja e arrogando-se o direito ao livre exame, se afastam da reta interpretação das Sagradas Escrituras, fazendo ilações lineares, sem levar em conta outras passagens sobre o mesmo tema, o que é indispensável para chegar ao verdadeiro sentido de todas elas.
Que Nosso Senhor sempre vos Ilumine e que vosso coração sempre tenha espaço para a Santíssima Virgem Maria!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ser ou não ser (líder): eis a questão



Quem já não ouviu ou citou esta frase de Shakespeare? Ela sempre se refere A situações de escolha, mesmo que muitas vezes a usemos meio em tom de brincadeira a respeito de coisas nada filosóficas. No original, o Príncipe Hamlet olha uma caveira e diz ‘ser ou não ser, eis a questão’, indagando a si próprio sobre qual decisão tomar, qual escolha seguir, sabendo que sua vida e futuro dependiam dessa decisão.
 Fazemos isso todo o tempo e vamos tecendo a trama de nossas vidas pelas escolhas que fazemos. Mesmo sabendo que as circunstâncias, a cultura e os muitos condicionamentos que carregamos influenciam nossas escolhas, jamais podemos tirar do ser humano a liberdade de optar. Enquanto houver consciência, a pessoa humana é capaz de escolher, sendo capaz de se sobrepor e de surpreender a quem está ao seu redor que apostava nesta ou naquela direção. E essa ‘surpresa’ pode ser tanto para o bem quanto para o mal. A verdade, no entanto, é esta: fazemos e podemos fazer escolhas durante o transcurso de toda a nossa vida e elas começam no nosso interior, no ‘coração’, sede da vontade e da liberdade, se usarmos a noção bíblica do termo.
 Mas, cabe aqui a pergunta: até que ponto podemos interferir nas escolhas de alguém? Como podermos formar, principalmente as crianças e os adolescentes, na direção de valores de caráter e de consciência que os torne menos joguetes de manipulações ideológicas? Como influenciar alguém para que seja capaz de pensar e, após conjugar dados interiores e exteriores, fazer escolhas livres, responsáveis e conscientes? Todo mundo sabe que aprendemos mais pelo exemplo e vendo alguém ser e fazer do que por mil palavras. Se pessoas são e foram espelho para nós, não nos esqueçamos que outros também observam as imagens que refletimos, como somos e fazemos, para além dos nossos discursos. A cadeia é contínua, assim como a vida, graças a Deus!
 E aqui estamos falando de uma única palavra: do caráter de alguém. Caráter que se mescla indivisivelmente com coerência de vida e exercício de domínio do temperamento. Mas, como conseguir isso? Onde se escondem estes ETs, donos de si, pessoas que ‘fazem a diferença’, onde estão ? Segundo o diretor do Centro Europeu para o Desenvolvimento da Liderança (European Center for Leadership Development), Alexandre Havard, estas pessoas são os líderes e investir na formação das lideranças é o segredo para se mudar a cultura e influenciá-la. Segundo ele, a liderança não é um dom privilegiado dado a alguns – mesmo que haja líderes mundiais únicos como Gandhi, Teresa de Calcutá e Luther King – mas é um exercício de vida vivida virtuosamente e, surpreendentemente, isso é para todos!
 Mas o que são as virtudes? O autor nos responde: ‘as virtudes são qualidades da mente, da vontade e do coração. Nós as adquirimos com nossos esforços. O ato próprio para adquiri-las é um ato de liderança. O caráter não é o temperamento. O temperamento é inato, é um produto da natureza. Pode ajudar no desenvolvimento de algumas virtudes e impedir outras. Fortalecemos nosso caráter através da prática habitual de hábitos morais saudáveis, chamados virtudes éticas ou morais. As virtudes imprimem caráter em nosso temperamento, de modo que este já não nos domina. Se me faltam virtudes, serei um escravo de meu temperamento. As virtudes regulam o temperamento’.
 Assim, as virtudes deixam de ser assunto antiquado, do jargão religioso do universo cristão-católico, e se tornam o segredo do sucesso de quem quer ser líder e bem sucedido na vida! A conjugação caráter e virtudes formam um verdadeiro líder, capaz de tornar o mundo melhor ao redor de si.
 Será que alguém tem dúvida que na vida dos CEOs das grandes corporações empresariais deste mundo há a exigência de muita disciplina, prudência, coragem, dedicação? Segundo Alexandre Havard ‘os líderes têm de ser virtuosos para serem líderes reais. A virtude é um hábito que se adquire com a prática. As virtudes são mais que simples valores, as virtudes são forças dinâmicas’. Ou seja, os líderes não nascem líderes, eles se fazem líderes. As virtudes não tomam o lugar da competência profissional, mas são parte desta. As virtudes têm tudo a ver com a realização do ser humano e menos a ver com ‘exercício de piedade subjetivo’. Digo isso pensando nos milhares de leigas e leigos consagrados a Deus na Igreja, ao redor do mundo, que são convidados a exercitar as virtudes em todas as áreas nas quais vivem e atuam, sendo verdadeiras testemunhas do Evangelho!
 Este empreendedor, Alexandre Havard, idealizou um programa executivo intitulado ‘Liderança virtuosa’, que converte as virtudes clássicas como base para a excelência pessoal e profissional. Ele lista as seis principais virtudes de um candidato a líder. São elas: ‘a magnanimidade para lutar por coisas grandes e propor desafios a si mesmo e aos demais; a humildade para superar o egoísmo e acostumar-se a servir aos outros; a prudência para tomar decisões justas; a valentia para manter-se e resistir a todo tipo de pressões; o autocontrole para subordinar as paixões ao espírito e ao cumprimento da missão, e a justiça para dar a cada um o que merece’.
 Caráter. Escolhas. O que ser. O que não ser. Liderança. Formação. Influência. Virtudes. Exercício das virtudes. De tudo isso falamos um pouco neste artigo. Acima de tudo, porém, apontamos para a liberdade que temos de construir e modificar a cultura e o mundo que nos cerca a partir da construção de nós mesmos! Este tema deve ser falado para os jovens, alunos, universitários, sobrinhos e filhos nossos, estejam eles ou não no Projeto Juventude e nas Pastorais. Viver as virtudes, exercitar o autodomínio é sinônimo de realização e santidade e não de negação e frustração! E saber isso, buscar viver assim é dom, é graça de Deus e, seguramente, a Sua vontade para cada um de seus filhos e filhas. Nosso chamado: sermos líderes e formarmos líderes para o bem e para a paz, que é o que todos desejam, mesmo que essa nossa liderança, pelo exercício das virtudes, atinja um universo de ação e de atuação bem restrito e discreto.
 Terminamos com as palavras do autor que nos diz: ‘Vício ou virtude? Depende de nós. A virtude implica e depende da liberdade. Não se pode forçar, é algo que escolhemos livremente. Se as praticamos assiduamente, o caminho para a liderança está aberto. A liderança começa quando usamos nossa responsabilidade livremente. Virtude vem do latim ‘virtus’ e exprime força ou poder. A capacidade de dizer ‘não’ nos confere um grande poder. Somos livres para decidir até que ponto deixamos que a cultura atual nos afete. Escolhemos livremente ser o que somos’.
 Que escolha você faz?