domingo, 28 de julho de 2013

Discurso do Papa Francisco, na vigília da JMJ.



"Queridos jovens,

Acabamos recordar a história de São Francisco de Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz:«Francisco, vai e repara a minha casa». E o jovem Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamada do Senhor: repara a minha casa. Mas qual casa? Aos poucos, ele percebe que não se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito de pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja; tratava-se de colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo.

Também hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja. Também hoje ele chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja, para serem missionários. Como? De que modo? Partindo do nome do local em que nos encontramos - Campus Fidei, Campo da Fé - pensei em três imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser um discípulo missionário: a primeira, o campo como lugar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de

treinamento; e a terceira, o campo como canteiro de obras.

1. O campo como lugar onde se semeia. Todos conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo lançando sementes; algumas caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio de espinhos e não conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão muito fruto (cf. Mt 13,1-9). Jesus mesmo explica o sentido da parábola: a semente é a Palavra de Deus que é lançada nos nossos corações (cf. Mt 13,18-23). Queridos jovens, isso significa que o

verdadeiro Campus Fidei é o coração de cada um de vocês, é a vida de vocês. E é na vida de vocês que Jesus pede para entrar com a sua Palavra, com a sua presença. Por favor, deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, e nela possam germinar e crescer.

Jesus nos diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em meio aos espinhos não deram fruto. Qual terreno somos ou queremos ser? Quem sabe se, às vezes, somos como o caminho: escutamos o Senhor, mas na vida não muda nada, pois nos deixamos aturdir por tantos apelos superficiais que escutamos; ou como o terreno pedregoso:acolhemos Jesus com entusiasmo, mas somos inconstantes e diante das dificuldades não temos a coragem de ir contra a corrente; ou somos como o terreno com os espinhos: as coisas, as paixões negativas sufocam em nós as palavras do Senhor (cf. Mt 13, 18-22). Mas, hoje, tenho a certeza que a semente está caindo numa terra boa, sei que vocês querem ser um terreno bom, não querem ser cristãos pela metade, nem "engomadinhos", nem cristãos de fachada, mas sim autênticos. Tenho a certeza que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade que se deixe arrastar pelas modas e as conveniências do

momento. Sei que vocês apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido para a vida. Jesus é capaz de oferecer-lhes isto. Ele é o «caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6)! Confiemos n’Ele. Deixemo-nos guiar por Ele!

2. O campo como lugar de treinamento. Jesus nos pede que o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que "joguemos no seu time". Acho que a maioria de vocês ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros países, o futebol é uma paixão nacional. Ora bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time? Deve treinar, e muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do Senhor. São Paulo nos diz: «Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível!» (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna. Jesus, porém, nos pede que treinemos para estar "em forma", para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, testemunhando a nossa fé.

Como? Através do diálogo com Ele: a oração, que é diálogo diário com Deus que sempre nos escuta. através dos sacramentos, que fazem crescer em nós a sua presença e nos conformam com Cristo; através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar ninguém. Queridos jovens, que vocês sejam verdadeiros "atletas de Cristo"!

3. O campo como canteiro de obras. Quando o nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus, quando se "sua a camisa" procurando viver como cristãos, nós experimentamos algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de irmãos que percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja, mais ainda, tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas da história. São Pedro nos diz que somos pedras vivas que formam um edifício

espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para este palco, vemos que ele tem a forma de uma igreja, construída com pedras, com tijolos. Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua Igreja; e não como uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas. Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a você, a cada um: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações»! Nesta noite, respondamos-lhe: Sim, também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de Jesus! Digamos juntos: Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo!

No coração jovem de vocês, existe o desejo de construir um mundo melhor. Acompanhei atentamente as notícias a respeito de muitos jovens que, em tantas partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Mas, fica a pergunta: Por onde começar? Quais são os critérios para a construção de uma sociedade mais justa? Quando perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja, ela respondeu: você e eu!

Queridos amigos, não se esqueçam: Vocês são o campo da fé! Vocês são os atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu "sim" a Deus: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lc1,38). Também nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra. Assim seja!"

terça-feira, 23 de julho de 2013

Primeiro Discurso no Brasil do Santo Padre Francisco



Veja o primeiro discurso do papa Francisco na íntegra, em sua primeira viagem ao Brasil e logo abaixo desta postagem está o discurso em vídeo.
O discurso foi feito no início da noite desta segunda-feira (22) no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro. O pontífice estava ao lado da presidente Dilma Rousseff e era acompanhado por autoridades como o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes.
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Senhora Presidenta,
Ilustres Autoridades,
Irmãos e amigos!

Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graças a Deus pela sua benignidade.

Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: "A paz de Cristo esteja com vocês!"

Saúdo com deferência a senhora presidenta e os ilustres membros do seu governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento e por suas palavras que externaram a alegria dos brasileiros pela minha presença em sua pátria. Cumprimento também o senhor governador deste Estado, que amavelmente nos recebe na sede do governo, e o senhor prefeito do Rio de Janeiro, bem como os membros do corpo diplomático acreditado junto ao governo brasileiro, as demais autoridades presentes e todos quantos se prodigalizaram para tornar realidade esta minha visita.

Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus irmãos no Episcopado, sobre quem pousa a tarefa de guiar o rebanho de Deus neste imenso país, e às suas amadas igrejas particulares. Esta minha visita outra coisa não quer senão continuar a missão pastoral própria do Bispo de Roma, de confirmar os seus irmãos na fé em Cristo, de animá-los a testemunhar as razões da esperança que d'Ele vem e de incentivá-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu amor.

O motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido, transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: "Ide e fazei discípulos entre todas as nações".

Estes jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variegadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade.

Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo "bota fé" nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: "Ide, fazei discípulos". Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens "botam fé" em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos.

Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei às suas famílias,às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações.

Os pais usam dizer por aqui: "os filhos são a menina dos nossos olhos". Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta desafiadora pergunta.

A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos.

Concluindo, peço a todos a delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de amanhã, se Deus quiser, tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Desde já a todos abençoo. Obrigado pelo acolhimento!

Papa Francisco

Abaixo segue o vídeo do discurso do Santo Padre:


 Fonte: http://devocaoefe.blogspot.com.br

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Arte e vida espiritual



Por Pe. Jonathan Loop
Traduzido por Andrea Patrícia

No Antigo Testamento, Deus Onipotente dirigiu Salomão, o filho de Davi, a construir em Sua honra um glorioso templo que serviria como Sua casa entre a nação judia. Quando essa casa de Deus ficou completa após sete anos de construção, foi-nos dito: “Uma nuvem encheu a casa do Senhor, e os sacerdotes não podiam ministrar por causa da nuvem; pois a glória do Senhor enchia a casa do Senhor.”1 Por esta razão o Salmista exclama: “A santidade é vossa casa, Senhor, na duração dos séculos.”2 entretanto, esse templo terrestre foi feito apenas para servir como uma imagem do lugar de habitação do bom Deus no Novo Testamento.

O Templo de Deus é Sagrado

Na primeira de suas cartas aos cristãos de Corinto, São Paulo escreve: “Vocês não sabem que são o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês? Pois o templo de Deus é sagrado, o que vocês são” 3. A essa luz, nós podemos entender melhor as palavras de Nosso Senhor a mulher samaritana que disse que os judeus louvavam a Deus em Jerusalém, enquanto que os samaritanos louvavam a Deus no Monte Garizim. Ele disse a ela: “Vem a hora em que não adorareis o Pai nem nessa montanha nem em Jerusalém. Vem a hora e agora é quando os verdadeiros adoradores irão adorar o Pai em espírito e em verdade. Deus é espírito, e aqueles que O adoram devem adorá-lO em espírito e em verdade”4 Em outras palavras, onde quer que haja uma alma cristã em estado de graça, aí então encontraremos um templo onde verdadeira adoração pode ser rendida a Deus Onipotente.

Vamos tomar, então, alguns momentos para ver o quanto nós estamos aptos a tornar nossas almas dignas moradas do Criador do Céu e da terra. Para fazer isso, deixe-nos considerar brevemente algumas das qualidades que caracterizam as lindas catedrais - Chartres, Notre Dame de Paris, Basílica de São Pedro em Roma, para nomear algumas – que foram construídas durante a Era da Fé. Essas igrejas foram projetadas principalmente com o fim de honrar e glorificar o bom Deus; tudo nelas era direcionado a esse propósito. Embora muitos estilos diferentes tenham dominado vários períodos da arquitetura das igrejas, há vários elementos que permanecem constantes através dos séculos. Entre esses, nós devemos focalizar na grande ordem encontrada nas igrejas católicas, a frequente presença da luz natural, e o fato de que essas construções foram tradicionalmente feitas de pedra.

O Altar é o Centro

Quando alguém entra numa catedral católica, não pode deixar de se impressionar pela grandiosidade do edifício bem como pela harmoniosa arrumação de tudo contido nela.5 Esses dois elementos contribuem para o senso de ordem que permeia os templos de nossa religião. É claro, se nós falamos de ordem, nós necessariamente indicamos algo que tanto estabelece quanto define essa ordem. Nas catedrais católicas – e, de fato, até mesmo na mais humilde paróquia católica – esse princípio da ordem não é nenhum outro senão o altar. Em um sermão, o Arcebispo Lefebvre perguntou retoricamente: “O altar é o centro de todas as nossas basílicas e nossas igrejas ou não é?” Ele continua e diz: “O que os missionários fazem nas terras em que eles querem evangelizar? A primeira coisa que eles fazem é montar uma capela, um lugar de oração. E nesse lugar, o que eles colocam no meio? Um altar.”6 Todo o desenho das igrejas católicas é feito para direcionar as almas para o altar. Por quê? Porque lá é oferecido o santo Sacrifício da Missa, que é o sacrifício da Cruz renovado de uma maneira incruenta, e lá é ofertado a Deus o mais perfeito ato de oração e adoração possível. A belíssima arte – estatuário, vitrais, vestimentas e ornamentos— bem como a nobreza das proporções majestosas de nossas catedrais são feitas simplesmente para ajudar nossas mentes a compreender mais perfeitamente a sublime realidade que é estabelecida nessas pedras sagradas.

Assim como é nas nossas catedrais e igrejas, deve ser em nossas almas. Cada faculdade, cada desejo, cada propriedade das nossas almas deve ser direcionada a reproduzir dentro de nós o sacrifício que Nosso Senhor ofereceu no Calvário, e continua a oferecer em nossos altares. O que isso significa para nós na prática? Para responder a isso, nós devemos primeiro perguntar o que repousa no coração do sacrifício de Nosso Senhor. Nós devemos verdadeiramente dizer que o sacrifício que Nosso Senhor ofereceu no Calvário – e que Ele continua a oferecer sobre os nossos altares – foi essencialmente de obediência a vontade de Seu Pai: “Ele humilhou a Si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de Cruz”7. Nós podemos ver a oblação final que nosso Senhor fez no jardim do Getsêmani: “Pai, se possível, afastai de Mim esse cálice. Todavia, que não seja feita a Minha vontade, mas a Vossa”8. O Calvário, entretanto, foi simplesmente, a expressão final de toda a vida de Cristo. São Paulo ensina que quando Nosso Senhor entrou em nosso mundo, o primeiro movimento de Sua alma foi para exclamar: “Sacrifício e oblação Vós não quisestes, mas formaste um corpo para Mim. Então disse Eu: ‘Eis que venho; no livro está escrito de Mim que Eu deveria fazer a Vossa vontade.”9 Durante Sua vida pública, Ele nunca deixou de repetir: “O Meu alimento é fazer a vontade Dele que me enviou.”10 Nossa maior paixão deve ser buscar e cumprir a vontade de nosso Pai no céu. Isso invariavelmente irá significar sacrificar aquilo que é mais caro a nós – nossa própria vontade – sobre o altar de nossos corações. Tudo o que há em nós — nossa mente, memória, emoções, dons físicos — e até mesmo nossas posses exteriores devem ser ordenadas a este altar espiritual e ao sacrifício espiritual que é oferecido sobre ele.

Atenção a Nosso Senhor

Outro aspecto da arquitetura das igrejas nos revela características adicionais do simbolismo inerente nos templos cristãos. Tradicionalmente, igrejas católicas foram construídas de frente para o leste para ficar na direção do sol nascente. Assim, quando é rezada a Missa, a luz do novo dia pode ser derramada dentro da igreja. Embora isso evidentemente sirva a um propósito prático, também atrai a nossa atenção a Nosso Senhor, que é a “luz do mundo.” No Evangelho segundo São João, é relatado que falou sobre esse assunto em inúmeras ocasiões. Por exemplo, imediatamente antes de Sua Paixão, Ele explicou: “Eu venho como uma luz ao mundo; aquele que crê em Mim, não permanecerá nas trevas”11 Ao orientar as igrejas que eles construíram, nossos antepassados quiseram dessa maneira destacar o fato de que a Santa Madre Igreja é iluminada pelo Sol da Justiça.

Aqui novamente nós podemos extrair uma valiosa lição para as nossas vidas espirituais. Nós também precisamos projetar nosso edifício spiritual de maneira tal que permita que Nosso Senhor lance Sua luz abundantemente dentro de nossas almas. No prólogo do Evangelho de São João, nós lemos: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.”12 O que isso significa? Nós devemos estudar a nossa Fé. O que é a nossa Fé senão as verdades que Nosso Senhor nos ensinou? Quais são as verdades que Nosso Senhor nos revelou senão as luzes sobrenaturais muito mais brilhantes do que o mais brilhante conhecimento natural dos maiores filósofos? O Arcebispo Lefebvre costumava dizer que uma criança de cinco anos de idade que conhece o seu catecismo entende a realidade melhor do que os mais renomados eruditos [que não conhecem o catecismo]. Quanto mais absorvemos os ensinamentos do Deus Encarnado, mais Ele deverá dissipar de nós a escuridão da nossa ignorância e erro. Ele disse: “Eu Sou a luz do mundo: aquele que segue a Mim, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.”13

O Próprio Cristo é a Pedra Angular

Finalmente, é digno de nota que o material de construção escolhido para as gloriosas igrejas da Cristandade foi invariavelmente pedra. Além de ser uma substância forte e nobre, tem o feliz emblema que nos lembra do fato de que “O próprio Jesus Cristo [é] a pedra angular” da Igreja. Ele é também a sólida fundação da Igreja: “Nenhuma outra fundação pode ser posta, a não ser a que já foi posta; que é Jesus Cristo.”14 Assim como é com a Igreja, é também em nossas vidas interiores. Se nós quisermos ter uma piedade sólida e equilibrada, nós devemos basea-la inteiramente em Nosso Senhor Jesus Cristo como Ele se fez conhecido a nós através da revelação pública que Ele legou à Igreja. De fato, não há necessidade de multiplicidade de devoções privadas ou práticas piedosas com o fim de agradar a Deus. Nós só temos que nos aproximar de Jesus e repousar Nele. É somente desta maneira que nossas vidas espirituais terão a estabilidade necessária que nos possibilitará evitar ser excessivamente entusiasmados por consolos espirituais ou abatidos pela desolação e pelas provações.
Nossas vidas espirituais irão conter tanto os altos quanto os baixos. O glorioso templo dedicado por Salomão seria despojado de seus tesouros dentro de poucos anos15 e finalmente destruído quando o reino de Judá foi levado ao cativeiro babilônico. Mais tarde, ele tanto retomaria a Sua morada no segundo templo construído sob a supervisão de Neemias quanto manteria Sua presença ali até à morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.16 Deus permitirá que o templo espiritual de nossas almas sofra um destino semelhante na medida em que Ele permita — devemos fielmente nos esforçarmos para servi-lO — que sejamos despojados das riquezas da sua consolações. Podemos até mesmo ir tão longe como dizer que Ele vai permitir que ele seja destruído na medida em que Ele trabalha para aniquilar qualquer coisa nele que seja indigna de Si mesmo. Apenas na medida em que nós tenhamos colocado Cristo como o fundamento do nosso edifício espiritual, assegurado que a Sua luz banha seu interior, e colocado no seu centro o altar sobre o qual está sendo sacrificada a nossa vontade, seremos capazes de suportar o trabalho construtivo de Deus em nossas almas. Então Nosso Senhor e Seu Pai Eterno virão de bom grado tomar posse eterna de nossas almas e enchê-las com a Sua glória.


O autor:

Pe. Jonathan Loop nasceu e foi criado como episcopaliano. Ele frequentou a faculdade na Universidade de Dallas, onde recebeu a graça de se converter, por intermédio de vários de seus colegas, alguns dos quais mais tarde se tornariam religiosos com os Dominicanos de Fanjeaux. Após graduar-se com grau de bacharel em Filosofia Política, ele se matriculou no Seminário Santo Tomás de Aquino, onde foi ordenado sacerdote em junho de 2011. 

Notas: 

1 I Reis 8,10-11.

2 Salmo 92,5.

3 I Cor. 6,19.

4 Jn. 4,21-4.

5 Na primeira visita do autor a Europa ele visitou a Espanha. Junto com um amigo Mórmon, ele entrou na catedral de Sevilha e foi subjugado pela imensidão e majestade da construção. Como ambos tiveram que erguer suas cabeças para assimilar toda a extensão do interior e vislumbrar o teto, os normalmente loquazes adolescentes foram reduzidos à expressão de monossilábica admiração.

6 Sermão de 27 de Março, 1975.

7 Fil. 2,8.

8 Lc. 22,42.

9 Heb. 10,5, 7.

10 Jn. 4,34.

11 Jn. 12,46.

12 Jn. 1,4.

13 Jn. 8,12.

14 I Cor. 3,11.

15 I Reis 14,25. O templo foi saqueado cerca de 30 anos depois de ter sido concluído.

16 Lc. 23,45.

Fonte: http://borboletasaoluar.blogspot.com.br

quinta-feira, 11 de julho de 2013

História e medalha de São Bento

 


São Bento nasceu na Umbria, Itália, no ano de 480. Era de família nobre romana. Desde pequeno manifestou um gosto especial pela oração. Realizou os primeiros estudos na região de Nurcia, próximo à cidade de Spoleto. Depois foi morar em Roma para estudar filosofia.

Vida de São Bento
Um eremita chamado Romano encontrou Bento e lhe deu um hábito de monge. Romano ensinou a São Bento tudo sobre a vida de eremita e levando-o para uma gruta escondida, (gruta santa), no monte de Subíaco. Lá, o jovem Bento aprofundava-se na vida de eremita e Romano o ajudava regularmente com alimentos.
São Bento ficou ali por 3 anos só em orações e estudos, sem receber visitas. Um dia, porém, um sacerdote da região, fazendo seu jantar, ouviu uma voz dizendo: estás fazendo seu jantar enquanto meu servo Bento morre de fome no deserto.  O sacerdote, com muito esforço, partiu para o deserto, encontrou a gruta em que Bento estava escondido e após uma oração, disse que era o dia da Páscoa do Senhor e serviu-lhe a comida.
Tempos depois o jovem bento foi descoberto por pastores e assim passou a receber muitas visitas para conselhos e orações. Logo sua fama começou a crescer e ele passou a ser visitado por mais e mais pessoas em busca de aconselhamentos e orações.

Tentativa de assassinato
Por causa de sua fama de santidade, São Bento foi chamado para ser o abade (superior) do convento de Vicovaro. Ele aceitou, desejando prestar um serviço. Porém, não combinou com a vida que os monges viviam, porque não era incondicional como ele achava que deveria ser o seguimento de Cristo.
Foi se formando entre os religiosos uma antipatia contra o santo, chegando ao cúmulo de tentarem matá-lo com veneno, mas, abençoando a taça de vinho envenenada, como fazia com todos os alimentos que comia, ela se quebrou. Assim, bento disse em seguida que Deus perdoe a vocês, meus irmãos. Depois disso, abandonou o convento e voltou para Subíaco.

A primeira ordem monástica da história
São Bento fundou em poucos anos doze mosteiros. Antes de Bento, os monges viviam como eremitas, isolados, sozinhos. São Bento organizou a vida monástica comunitária e os mosteiros começaram a florescer. Todos eles seguiam a famosa Regra de São Bento.  As famílias nobres de Roma começaram a mandar seus filhos para estudarem nos mosteiros fundados por São Bento. Santo Plácido e São Mauro estavam entre os educandos de São Bento.

A Regra de São Bento
A Regra de São Bento (Regula Monasteriorum) é um livro escrito por São Bento, com as regras para a vida monástica comunitária. É um livro com 73 capítulos curtos. A regra prioriza o silêncio, a oração, o trabalho, o recolhimento, a caridade fraterna e a obediência. Assim nascia a famosa Ordem dos Beneditinos, ou Ordem de São Bento, que permanece viva e atuante até hoje, seguindo a mesma regra escrita há mais de 1500 anos. A Regra de São Bento foi também adaptada para várias congregações de monges do ocidente.

Milagres de São Bento
No Monte Cassino, Itália, Bento começou a pregar o Evangelho para o povo. Com a pregação e os inúmeros milagres que fazia, inclusive vários exorcismos, o povo começou a se converter. Assim, o povo de Monte Cassino derrubou o templo de Apolo, que fora construído no cume do monte e com suas ruínas construíram dois conventos com as bênçãos de São João Batista e São Martinho. Esta foi a origem do grande mosteiro de Monte Cassino, criado em 529, com a bênção do Papa Felix III. 

Devoção a São Bento
São Bento morreu no ano de 547, aos 67 anos. Predisse sua morte no mesmo ano da morte de sua irmã Santa Escolástica, fundadora do ramo feminino da ordem de São Bento. Mandou abrir sua própria sepultura e depois de falar aos monges, de pé com as mãos para o céu, morreu. Parte de suas relíquias estão no Mosteiro de Monte Cassino e outras na abadia de Fleury, na França. São Bento foi canonizado no ano de 1220 e sua festa é comemorada no dia 11 de julho.

Imagem de São Bento
Sua imagem é representada com o livro das regras; um sino, que representa a voz de Deus; um copo quebrado e a serpente representando o veneno; um corvo com um pedaço de pão no bico representando o tempo em que ele passou no deserto e uma vara representando a disciplina.

Medalha de São Bento e sua mensagem 


A medalha de São Bento foi esculpida primeiramente nas colunas do mosteiro de Monte Cassino. Na frente da medalha lê-se: Ejus in ibitu nostro praesentia muniamur. Sejamos protegidos pela sua presença na hora da nossa morte.
No verso encontra-se as seguintes inscrições:
CSPB      - Crux Sancti Patris Benedicti     - (cruz do Santo Pai Bento)
CSSML   - Crux Sacra Sit Mihi Lux             - (a Cruz Sagrada Seja a minha Luz)
NDSMD - Non Draco Sit Mihi Dux            - (não seja o Dragão o meu guia)
VRS        - Vade Retro Satana                    - (para traz satanás)
NSMV   - Nunquam Suade Mihi Vana    - (Nunca Seduzas minha alma)
SMQL    - Sunt Mola Quae Libas               - (são coisas más que brindas)
IVB         - Ipse Venana Bibas                     - (Bebas do mesmo veneno)

Segue um vídeo com a explicação sobre a medalha:





Requisitos Para Uso da Medalha
O uso habitual da medalha tem por efeito colocar-nos sob a especial proteção de São Bento, principalmente quando se tem confiança nos méritos de grande Santo e nas grandes virtudes da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!
São numerosos os fatos maravilhosos atribuídos às esta medalha. Ela nos assegura poderes socorro contra as ciladas do demônio e também para alcançar graças espirituais, com conversão, vitória contra as tentações, inimizades etc.
Igualmente, nos protege contra os acidentes de toda espécie.
Contudo a medalha não age automaticamente contra as adversidades, como se fosse um talismã ou vara mágica.
Todo Cristão, a exemplo de Jesus Cristo, deve carregar a sua cruz. Pois, é neceque nossas faltas sejam expiadas; nossa fé seja provada; e nossa caridade seja purificada, para que aumentem nossos méritos.
O símbolo de nossa redenção, a cruz, gravada na medalha não tem por fim nos livrar da prova; no entanto, a virtude da cruz de Jesus e a intercessão de São Bento produzirão efeitos salutares em muitas circunstâncias; a medalha concede, também, graças especiais para hora da morte, pois, São Bento, como São José, são padroeiros da boa morte.
Para se ficar livre das ciladas do demônio é preciso, acima de tudo, estar na graça e na amizade de Deus. Portanto, é preciso servi-lo e ama-lo, cumprindo todos os deveres de justiça; em uma palavra, cumprimento de todos os mandamentos da lei de Deus e da Igreja.
Nem o demônio , nem alguma criatura, tem o poder de prejudicar verdadeiramente uma alma unida a Deus.
Em resumo, o efeito da medalha de São Bento depende em grande parte disposições da pessoa para com Deus e da observância dos requisitos acima mencionados.
(Recomenda-se aos que usarem a medalha rezarem diariamente as orações cujas iniciais estão na medalha, acrescentando o Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai).

Oração a São Bento

A Cruz sagrada seja a minha Luz. Não seja o dragão o meu guia. Retira-te satanás. Nunca me aconselhe coisas vãs. É do mal o que tu me oferece. Beba tu mesmo do teu veneno. Rogai por nós Bem Aventurado São Bento, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
 
Oração Para Alcançar uma Graça
Ó Glorioso Patriarca São Bento, que vos mostrastes sempre compassivo com os necessitados, fazei que também nós. Recorrendo à vossa poderosa intercessão, obtenhamos auxílio em todas as nossas aflições; que nas famílias reine a paz e a tranqüilidade; que se afastem de nós todas as desgraças tanto corporais como as espirituais, especialmente o mal do pecado. Alcançai do Senhor a graça —- que vos suplicamos; finalmente vos pedimos que ao término de nossa vida terrestre possamos ir louvar a Deus convosco no Paraíso. Amém.

Fontes: http://www.cruzterrasanta.com.br/historia/sao-bento
           http://www.paroquiasaobento.com.br/portal/sobre/