terça-feira, 31 de julho de 2012

A LITURGIA É NOSSO ALIMENTO




Por   Dom Henrique Soares da Costa

Sobre a Liturgia: insistentes ponderações


A liturgia é para nosso alimento, alento e transformação espiritual: ela nos cristifica, isto é, é obra do próprio Cristo que, na potência do Espírito, nos dá sua própria vida, aquela que ele possui em plenitude na sua humanidade glorificada no céu. Participar da liturgia é participar das coisas do céu, é entrar em comunhão com a própria vida plena e glorificada do Cristo nosso Senhor.



A liturgia não é feita produzida por nós, não é obra nossa! Ela é instituição do próprio Senhor. Para se ter uma ideia, basta pensar em Moisés, que vai ao faraó e lhe diz: “Assim fala o Senhor: deixa o meu povo partir para fazer-me uma liturgia no deserto”. E, mais adiante, explica ao faraó que somente lá, no deserto, o Senhor dirá precisamente que tipo de culto e que coisas o povo lhe oferte.



Isto tem a ação litúrgica de específico e encantador: não entramos nela para fazer do nosso modo, mas do modo de Deus; não entramos nela para nos satisfazer, mas para satisfazer a vontade de Deus. Por isso digo tantas vezes que o espaço litúrgico não é primeiramente antropológico, mas teológico: a liturgia é espaço privilegiado para a manifestação e atuação salvífica de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Nela, a obra salvífica de Cristo é perenemente continuada na Igreja.



O problema é que entrou em certos ambientes da Igreja uma concepção errada de liturgia, totalmente alheia ao sentido da genuína tradição cristã: a liturgia como algo que nós fazemos, do nosso modo, a nosso gosto, para exprimir nossos próprios sentimentos. Numa concepção dessas, o homem, com seus sentimentos, gostos e iniciativas, é o centro e Deus fica de lado! Trata-se, então, de uma simples busca de nós mesmos, produzida por nós mesmos; uma ilusão, pois aí só nos encontramos e os sentimentos que provocamos. É o triste curto-circuito: faz-se tudo aquilo (coreografias, palmas, trejeitos, barulho, baterias infernais, sorrisinhos do celebrante, comentários e cânticos intimistas, invenções impertinentes e despropositadas...) para que as pessoas sintam, liguem-se, “participem”... Mas, tudo isto somente liga a assembleia a si mesma. Não passa de uma exaltação subjetiva e sentimental! Aí não se abre de fato para o Silêncio de Deus, para Aquele que vem nos surpreender com sua glória e sua ação silenciosa, profunda, consistente e transformadora. A assembleia já não celebra com a Igreja de todos os tempos e de todos os lugares; muito menos com a Igreja celeste!



O sentido da liturgia é outro: é um culto prestado a Deus porque ele é Deus! O interesse é Deus! A liturgia é algo devido a Deus e instituído pelo próprio Deus. Quando alguém participa de uma liturgia celebrada como a Igreja determina e sempre celebrou, se reorienta, se reencontra, toma consciência de sua própria verdade: sou pequeno, dependente de Deus e profundamente amado por ele: nele está minha vida, meu destino, minha verdade, minha paz. Nada é mais libertador que isso.



Vê-se a diferença entre essas duas atitudes ante a realidade litúrgica: na visão que se está difundindo, criamos uma sensação, uma ilusão. É algo parecido com a sensação de bem-estar que se pode sentir diante de uma paisagem bonita, num bloco de carnaval, num show, num momento sublime, numa noite com a pessoa amada... Na perspectiva que a Igreja sempre teve e ensinou, não! Estamos diante da Verdade que é Deus; verdade que não produzimos nem inventamos, mas vem a nós e enche o nosso coração! Devemos procurá-la? Certamente sim: "Fizeste-nos para ti, Senhor, e nosso coração andará inquieto enquanto não descansar em ti!" Mas para isto é indispensável a capacidade de silêncio, de escuta, de abrir os olhos do coração para a beleza de Deus. A liturgia nos dá isto!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Autoconhecimento



O autoconhecimento é hoje um fenômeno: nas seções especializadas das grandes livrarias vemos centenas de títulos relacionados ao tema e alguns dos livros mais vendidos, na lista dos best sellers são de auto-ajuda. Nos programas de televisão, vemos terapeutas, médicos, psicólogos, apresentadores, celebridades debatendo a necessidade do homem atual de conhecer-se, ter domínio sobre suas emoções e sentimentos. Algumas religiões, como o budismo, estão em alta na sociedade por trazer o assim chamado “equilíbrio interior”. Mas podemos nos perguntar: por que todo esse interesse pelo autoconhecimento? O que realmente o ser humano está buscando quando ele se movimenta rumo ao conhecimento de si? Na maioria das vezes, o autoconhecimento se torna uma meta em si mesma. O homem quer conhecer-se, quer dominar-se a si mesmo, busca uma harmonia interior. Mas, e nós cristãos? Devemos, podemos nos preocupar com essa questão? E, em uma resposta afirmativa, qual o objetivo de tal atitude?
“A causa de grandes males é o fato de não nos conhecermos devidamente, é distorcermos o conhecimento próprio” (1). Quem nos fala isso é Santa Teresa de Jesus, uma das maiores místicas da Igreja, doutora e mestra na vida de oração, já no século XVI. E podemos descobrir, pasmados, que Evágrio Pôntico, famoso monge do século IV, já dizia: “Se quiseres conhecer a Deus, procura antes conhecer-te a ti mesmo”. Isso revela que o autoconhecimento se iniciou com os monges e foi vivido pelos santos, chegando até nós hoje como uma riqueza no seio da Igreja. Mas, como e para que esses homens e mulheres de Deus tomaram essa trilha? Eles buscavam, essencialmente, a Deus. Deus era sua meta. Contudo, no caminho para Deus depararam-se consigo mesmos. Perceberam que para se chegar verdadeiramente até Deus era preciso percorrer um caminho que passava pelas próprias feridas e misérias e pela maravilha de se descobrirem como filhos de Deus. Portanto, para nós, cristãos, o autoconhecimento é importantíssimo e deve ser vivido como um instrumento para se tocar a Deus. “Parece, pois, que o mais importante de todos os conhecimentos é o conhecimento de si próprio, pois quando alguém conhece a si próprio, ele há de chegar ao conhecimento de Deus” (2). E por que essa ligação tão íntima entre o conhecimento de si e o conhecimento de Deus? Ora, o homem foi criado para Deus, somos imagem e semelhança de Deus, nossa origem está incrustada em Deus (quem poderá esquecer as lindas palavras do Salmo “Que é o homem, Senhor, para cuidardes dele, que é o filho do homem para que vos ocupeis dele? (3) e, portanto, “o homem só está em ordem quando ele se abre para Deus, quando Deus é o verdadeiro objetivo de sua vida. Só em Deus é que o homem encontra caminho pra si próprio.” (4)
Quer fazer um teste sobre o seu autoconhecimento? Pense nisso: “Ora bem, como é que eu sou? Geralmente fugimos a essa pergunta, mas, se tivéssemos que responder a ela, provavelmente não seríamos capazes de dar uma resposta satisfatória. Diríamos talvez meia dúzia de coisas vagas, misturando auto-elogios disfarçados com o reconhecimento de algum defeito inofensivo. Nada de sólido e realmente veraz. Porque a verdade é que nos desconhecemos. Tanto é assim que, diante de algo objetivo, como por exemplo a gravação de nossa voz, uma caricatura que nos fazem e até uma fotografia que nos apanhou desprevenidos, surpreendemo-nos. Esse sou eu?” (5)
Como conhecer-se, então? Não são necessários conhecimentos organizados, mas o olhar simples do homem consciente. É uma integração da própria vida, dos pontos positivos e negativos, sabendo-se apreciar os primeiros e tocar o sentido dos segundos. Não é simplesmente saber quem e como somos, mas aceitar o que somos. Pois só pela aceitação da nossa própria realidade é que poderemos trabalhar as nossas fraquezas, pecados e misérias para nos tornarmos aquilo que devemos ser. Ele nos ajuda a entender o porquê de muitas coisas que acontecem em nosso interior, de termos certos sentimentos, de agirmos de determinadas maneiras em determinadas situações. E de modo muito especial, conhecer-se não é apenas nos ver assim como os outros nos vêem, aceitando os defeitos e as qualidades que os outros apontam, mas nos ver assim como Deus nos vê, pois só Ele nos conhece verdadeiramente e sabe o que existe em nosso coração.
“Eu sou o que Deus pensa de mim” (6). Essa frase belíssima e profunda de Santa Teresinha traz à tona toda a graça que é ser pessoa humana, que é possuir o dom da vida e também toda a esperança de que nossa vida não é determinada por aquilo que já vivemos, especialmente os aspectos negativos, mas ela é determinada pelo olhar de Deus, pelo sonho de Deus, que Ele contempla constantemente a cada vez que nos olha. Só Deus nos conhece plenamente, só Ele sabe das nossas motivações mais profundas, dos nossos sentimentos mais verdadeiros, das nossas intenções mais puras e por isso mesmo Ele aposta em nossa transformação. Deus nos ama como somos, mas não nos deixa como estamos, Ele nos convida à conversão e por isso o processo de autoconhecimento é de imensa riqueza para nossas vidas, pois exige especialmente que nos comparemos com o que Deus quer e espera de nós e aquilo que Deus quer e espera de nós é sempre o melhor.
A partir dessa verdade, descobrimos, então, que a via para o autoconhecimento é a oração. Vamos nos conhecer à medida que nos colocarmos na presença de Deus e conseguirmos olhar nos Seus olhos, para ali ver refletida a nossa imagem. É olhando nos olhos de Deus que nos veremos assim como Ele nos vê. “A capacidade que a oração possui para nos levar ao autoconhecimento mais profundo, fundamenta-se no fato de ela confrontar-nos com Deus. No momento em que me confronto com Deus, me torno consciente do que em mim está errado. A oração manifesta o que a mera observação jamais haveria de perceber.” (7) O encontro com Deus na oração deve nos levar a mergulhar no nosso interior, de modo a que entremos em contato com as nossas realidades mais íntimas como pensamentos, sentimentos, angústias, paixões etc… Assim a oração se torna autoconhecimento e ao mesmo tempo possibilidade de conhecer verdadeiramente a Deus. Pois à medida que a pessoa encontra a si mesma ao ver desvelada sua própria natureza diante de Deus, também pode repentinamente ver desvelar-se a natureza de Deus como aquele que a ama e sustenta. Assim, também conhecemos o Amor de Deus e podemos nos apaixonar cada vez mais por Ele, percebemos o quanto nós somos amados e o quanto não merecemos esse amor. Fazemos a experiência do amor gratuito de Deus por nós e compreendemos que recebemos muito mais do que merecemos e passamos a ter um profundo sentimento de gratidão por todo amor recebido. Isso nos encoraja a enfrentarmos a vida com mais coragem, com fortaleza e vivacidade. Assim se realiza a promessa de Deus: “Se alguém está em Cristo é uma nova criatura” (8): viver a liberdade do próprio ser em Cristo, não estando mais condicionado às circunstâncias, ao passado, a impulsos incontroláveis…
“O homem novo, do qual fala São Paulo, está totalmente iluminado pela sabedoria do Espírito. Mas a luz é refletida e resplandece em sua humanidade” (9). Assumir a sua humanidade é essencial para a maturidade espiritual do homem e o autoconhecimento é peça essencial para que isso seja possível. Vivendo nessa busca contínua, nós podemos encontrar a cada dia a alegria e o contentamento de viver, podemos tocar a preciosidade das nossas vidas aos olhos de Deus, conhecer o céu que somos chamados e encontrar dentro de nós mesmos. Esse processo de autoconhecimento, quando bem vivido, nos leva a descobrir o profundo júbilo do salmista, ao cantar: “Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma” (10).
(1) Santa Tereza de Jesus, “Castelo Interior”.
(2) São Clemente de Alexandria.
(3) Sl 143, 3.
(4) Anselm Grün, “A oração como encontro”.
(5) J. Malvar Fonseca, “Conhecer-se”.
(6) Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
(7) Anselm Grün, “Oração e autoconhecimento”.
(8) 2 Cor 5, 17.
(9) Amedeo Cencini, “Os sentimentos do filho”.
(10) Sl 138, 13.

Cristina Tatiana S. C. Oliveira
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
Revista “O Pão da Vida”, setembro de 2008
Comunidade Católica Pantokrator



sexta-feira, 20 de julho de 2012

Encontrar um amigo é encontrar um tesouro





- A construção da amizade 


Atualmente tem-se escrito muito sobre a amizade. Talvez o homem de hoje, de forma especial, necessite desse dom tão precioso. 

Mas o que é amizade? Existem muitas definições sobre amizade, poetas e filósofos falam sobre ela – Platão, por exemplo, diz que “Na amizade cintila um pouco do mistério de Deus”. 

Antes de mais nada é importante compreendermos que a amizade é construída, não nasce do dia para a noite. É na convivência do dia-a-dia, através das pequenas coisas que vamos nos conhecendo, nos identificando e nos escolhendo como amigos. 

A amizade está fundamentada no amor, e o amor é uma atitude exigente. Podemos, em meio à agitação do cotidiano, achar que nossos conhecidos são nossos amigos, mas convém lembrar as diferenças no nível dos relacionamentos: temos, talvez, inúmeros conhecidos, diversos colegas, mas amigos são poucos. Pela própria natureza da amizade, é difícil que tenhamos tantos amigos assim, muitos que conheçam profundamente o nosso coração, por quem seríamos capazes de dar a nossa vida... 

Jesus ensina o “segredo” da amizade: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”. Essa frase tem muito a nos ensinar, curar, transformar... Não existe amizade sem entrega, oblação, doação e isso é um caminho a ser trilhado a cada dia, desde a descoberta do outro, de seus dons, limites, virtudes... “Há amigos mais queridos do que um irmão” (Pv 18,24), entretanto não podemos esquecer que ”os riscos são precisos para cativar um amigo.” 

O caminho é bilateral, não há amizade sem adesão voluntária de duas pessoas. Como já disse, muito tem se falado, escrito, cantado, mas é necessário para o homem de hoje, marcado pelo consumismo, pela solidão, pela “praticidade” das coisas, pelo descartável, “perder tempo” para construir amizades. Podemos comprar muitas coisas, mas não o amor, a afinidade, a afeição... a amizade! 

Não existem amigos prontos nas prateleiras dos supermercados ou lojas de conveniência. É nas sendas da vida que estão os tesouros, pessoas a serem descobertas, amadas, aceitas. E para isso é preciso tempo (cuidar da única rosa, segundo Exupéry), diálogo, história de vida que ao longo do caminho se tornará história de amizade. Ela não tem dia nem hora marcada para surgir, é como uma semente plantada em solo fértil, depois de aguá-la e tratá-la, esperamos a “árvore”, e um belo dia quando olhamos ela está lá. 

Muitas vezes, construir uma amizade pode parecer uma violência para o homem do mundo atual, tão preso em si mesmo que se torna incapaz de olhar para o outro. Quanto mais centralizado formos em nós mesmos, menor a capacidade de termos amigos. “Por que em primeiro lugar, como pode ser suportável a vida que não repousa na mútua benevolência de um amigo? Que coisa é tão doce como ter um com quem falar de todo tão livremente como consigo mesmo? Seria porventura tão grande o fruto das prosperidades, se não tivéssemos quem delas se alegrasse, tanto quanto nós mesmos? E se poderiam sofrer as adversidades sem alguém que as sentisse ainda mais que aqueles mesmos que as experimentaram.” 

As diversas formas de expressão na amizade 
Na dinâmica da amizade é necessário expressão. É preciso “cativar”. 

E voltou então, à raposa: 

- Adeus, disse ele... 

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. (...) Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez a tua rosa tão importante. (...) Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa... 

- Eu sou responsável pela minha rosa... Repetiu o principezinho, a fim de se lembrar. 

O amor que está em nós quer expressar-se e na amizade isso pode ocorrer de várias formas: diálogo, cartas, telefonemas, passeios, no olhar, na dor, na eloqüência do silêncio... Mesmo na distância a amizade tem expressão. Quem de nós não tem um amigo que partiu – ou fomos nós que partimos! – e, mesmo que não estejamos perto fisicamente, sabemos que sempre podemos contar um com o outro, que nossos corações continuam irmãos... enfim, temos a certeza do vínculo que nos une. 

No relacionamento de amizade aprendemos muitas coisas: a amar, escutar, perdoar, proteger o secreto do outro e a nos humanizar. “Mas tirando-se tantos e tão grandes proveitos da amizade, o maior de todos é o que faz conceber belas esperanças, para tudo que possa sobrevir, e não deixa que desfaleçam os ânimos. Porque o verdadeiro amigo vê o outro como uma imagem de si mesmo.” 

Na alegria ou na dor, nada é de sobremaneira pesado quando temos amigos. Mesmo passando por trevas, a amizade sempre nos oferece um caminho novo, uma vida nova, uma esperança, pois no sofrimento também se prova a amizade. 

“Sem amigo, nada é agradável”, dizia Santo Agostinho. O poeta também elaborou um pensamento especial sobre a amizade: “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem... Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida... mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro... embora não declare e não os procure sempre...” (Vinícius de Morais). 

O que seria da nossa vida se olhássemos para trás e não víssemos as pegadas dos nossos amigos que marcaram o chão da nossa história? O que seria da Igreja sem as fecundas amizades entre Francisco e Clara, Teresa e João da Cruz... O que será de mim se não lançar sempre o meu olhar de gratidão para Deus que me deu tantos amigos, em tantas épocas, em tantos lugares... Mas de maneira especial dedico este artigo a minha amiga Nira, que unida a mim por desígnios misteriosos da providência divina, com a sua vida me faz crer que o amor é mais forte do que a morte (cf. Ct 8,6s). 

Fonte: Revista Shalom Maná 
Márcia Fernanda Moreno dos Santos


segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Pão dos fortes



Os soldados quando vão para a guerra, eles levam consigo não só as armas de combate, mas também o suprimento alimentar para terem forças e vencer o adversário, este alimento é chamado “ o pão dos fortes” (SL 77,25), na verdade nós já sabemos, que depois da consagração quando o sacerdote diz “ Hoc est corpus meum” “Tomai e comei; isto é o meu corpo” ( Mt 26,16), o pão se converte em carne de Cristo, em uma linguagem mais comum “ Corpu Cristi”,Corpo de Cristo. Santo Inácio de Antioquia que é do Século II da santa Igreja ensinava “ O pão Eucaristico é remédio de imortalidade, antídoto para não morrer” , ou como o doutor do Ocidente Santo Agostinho afirmava “ A Eucaristia é o nosso pão cotidiano. A virtude própria desse alimento divino é uma força de união que nos une ao corpo do salvador e nos faz seus membros, a fim de que nos transformemos naquilo  que recebemos...” também diz o doutor do Oriente São João Crisóstomo “ Jesus nos da o seu corpo sob a espécie de pão, a fim de nos tornarmos com ele uma coisa só”.
Em um combate se desgasta muito a tropa, por esta razão antes de Jesus Cristo morrer, ele instituiu este sacramento de amor ( Lc 22,14-20), para fortalecer o seu exército e deixando organizado e fortalecido; já dizia São João Crisóstomo “ na verdade um General deixa nos mais extasiados quando, apesar de sua ausência, as tropas continuam disciplinadas”, na Igreja primitiva os cristãos “ perseveravam na doutrina dos apóstolos nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações” ( At 2,42).
Para vencermos o nosso adversário satanás, devemos resisti lo (Tg 4,7), não se pode ter medo deste leão enfurecido, pois quando comungamos o “pão dos Fortes” nos tornamos como Sansão que matava leão como se fosse um cabrito ( Jz 14,5-6), São Tomas de Aquino escreveu a respeito da comunhão que “ A comunhão destrói a tentação do demônio”. Todavia só podemos vencer o nosso oponente se estivermos revestido de Cristo ( Gl 3,27), e ai sim, poderemos dizer como São Paulo disse “ eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim”( Gl 2,20).
Santa Tereza de Ávila foi uma mulher violenta no combate espiritual, vejamos o que ela mesma diz a esse respeito:
“Se este Senhor ( Jesus Cristo) é tão poderoso como sei e vejo; se os demônios não são senão seus escravos, como a fé não me permite duvidar, que mal podem fazer eles, se eu sou a serva deste rei e senhor? Antes por que não me sentir tão forte que seja capaz de enfrentar o inferno inteiro? Tomando a cruz as mãos me parecia que Deus me dava coragem, em breve espaço de tempo me vi tão transformada, que não teria temido sair em luta com todos os demônios, que me parecia que com aquela cruz, facilmente venceria a todos; e lhes gritava “ avancem agora! Sendo eu a serva do senhor, quero ver o que me podem fazer!”, somente esta mulher colocou legiões inteiras de demônios para correr; qual era o seu segredo espiritual? Se não o pão dos fortes, ela mesma declara “ É um pão vivo, e por ser vivo tem o poder de vivificar aqueles que o recebem”
A se nós compreendêssemos o naipe dos homens espirituais, eles não recuavam no combate até que tenham vencido o seus inimigos, por isso está escrito “ dou caça aos inimigos e os alcanço, e não volto sem que os tenha aniquilado, de tal sorte os despedaço que não mais poderão levantar se; eles ficam caídos aos meus pés” (Sl 17, 28-29),observamos o porte deste que irei descrever “ PATIFE!” – Gritou o demônio ao Santo Cura D’ars, batendo o contra a parede do quarto   “ Já me roubaste 80 mil almas este ano; se existissem quatro sacerdotes como tu, estaria logo acabado o meu reino no mundo...”este grande combatente dizia um dos seus segredos assim “aquele que comunga se perde em Deus como uma gota de Água no oceano...
Os homens de Deus são como uma tocha inflamada, por este “ Pão dos fortes”, por isso o inimigo não pode o resistir. São Macário foi um destes homens, ele era um dos grandes padres do deserto, teve que lutar muito contra o demônio. Em um dia o viu chegar com uma força de fogo na mão, São Macário imediatamente se humilhou junto do Senhor, e caiu a força da mão do demônio, satanás então exclamou com ira e ódio “ Escuta Macário, tu tens boas qualidades mas eu tenho mais...tu comes pouco mas eu não como nada, tu dormes pouco, mas eu nunca, tu fazes milagres, eu também faço prodígios, uma coisa só sabes fazer que eu não sei: TU SABES HUMILHER TE!”.
A força destes homens estava no corpo e no sangue do Senhor Jesus Cristo, eles eram poucos, mas valiam por muitos, tinham uma aparência frágil, porém faziam estremecer os infernos, eram provados, contudo não sucumbiam estavam sempre prontos se preciso de sacrificar a própria vida por Cristo, o nome deles eram Cristãos, eles estavam prontos para qualquer combate espiritual e seu alimento era a carne de Cristo (Jo 6,,51), o pão vivo descido do céu ( Jo 6,50), o pão da vida ( Jo 6,35), os Santos atestaram isto dizendo como Santo Ambrósio “ Isso é o pão da vida eterna que sustenta nossa alma”ou quando dizia Santo Afonso de Ligório “ Quando Jesus toma posse da alma pela comunhão, traz consigo riquíssimo tesouro da graça” ou então como afirmava São Boaventura “ Cristo esta verdadeiramente no Sacramento como no céu”.

Fonte: http://fraternidadecombatentesnafe.blogspot.com.br


terça-feira, 10 de julho de 2012

A beleza do Cristianismo



* Por Rodrigo R. Pedroso

O filósofo espanhol Julián Marías, ao comentar sobre as perseguições antigas e presentes ao cristianismo, afirmou que não se compreende a hostilidade contra algo que é admirável.

Assim, o ódio anticristão seria intrinsecamente irracional. Efetivamente, o que há de mais belo neste mundo do que o cristianismo? Uma virgem concebe e dá à luz um menino. Este menino é o próprio Deus feito homem, andando no mundo e vivendo a vida dos homens, com suas dores e alegrias; o Verbo Criador, sem nada perder de sua divindade, assume a natureza humana de sua criatura. «Verdadeiro homem, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado, anunciou aos pobres a salvação, aos oprimidos, a liberdade, aos tristes, a alegria» (Oração eucarística n. 4). Filho eterno de Deus Pai, consubstancial com o Pai e o Espírito Santo na mesma e única Essência divina, doou-se totalmente para a salvação da humanidade e reparar o pecado do homem. «Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito, para que todo o que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3,16). Este Deus feito homem deixou-se crucificar pelos homens e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, vencendo a morte e nos dando a vida. Após a Ressurreição, apareceu aos discípulos e subiu aos céus, «não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade» (prefácio da Ascensão).

Pois então, existe história mais bonita que esta? Uma história sublime e ao mesmo tempo tão simples, que não encontra emulação [igualdade] em página alguma da literatura humana. Podem convocar todos os críticos literários do mundo, nenhum deles, honestamente, poderá apontar narrativa mais bela que o Evangelho. Nada do que a criatividade humana soube escrever pode ousar comparar-se. Esta é uma das provas da autoria divina dos Evangelhos: aquilo não pode ser obra humana, pois nada do que o homem produziu se lhe compara. Só o mesmo Deus poderia compor história tão bela, capaz de comover os homens de todos os tempos e de todos os lugares. Ademais, as narrativas que o homem criou foram inventadas pela imaginação e produzidas com papel e tinta, enquanto Deus fala nos fatos: antes de ser escrita nos livros, a narrativa evangélica foi representada diante dos homens por personagens de carne e osso, mediante fatos reais.

E se o Evangelho, centro da Sagrada Escritura, resplandece por sua sublime beleza, nem por isso o restante da Sacra Página encontra-se privado de encanto e ornamento. Vejam só a história de Abraão e de Sara, de Isaac e de Rebeca, e de Jacó que «sete anos de pastor serviu Labão, pai de Raquel, serrana bela» (Camões). A história de José, vendido por seus irmãos e depois salvando os mesmos irmãos que o tinham entregue, numa figura do Messias que viria. A singela história de fé de Tobias e a luta heroica dos Macabeus. E, no Novo Testamento, a conversão de São Paulo no caminho de Damasco: o perseguidor que se torna o Apóstolo dos Gentios, pregando o Verbo entre os surdos e os descrentes. Entre tantos outros episódios que poderiam ser citados.

Porém, de fato, o que pode haver de mais belo do que Deus assumindo a nossa própria natureza? «O Verbo se fez carne, e habitou entre nós» (Jo 1,14). Este é o mistério da encarnação; é, em certo sentido, a diferença específica do cristianismo. Em nenhuma outra religião o Deus único e Criador de todas as coisas assumiu a natureza humana, tornando-se «em tudo à nossa semelhança, exceto no pecado» (Hb 4,15), tomando para si um corpo e uma alma de homem. Ainda não contente, quis esse Deus ser mesmo nosso alimento na Eucaristia, em que Ele está substancialmente presente em sua divindade e humanidade.

O cristianismo não é apenas belo em si, como também é produtor de beleza. Por séculos, a verdade cristã inspirou os maiores artistas e promoveu a produção de inúmeras obras artísticas que enriqueceram a civilização não apenas nas letras, como em cada uma das belas artes. Diante dos magníficos tesouros artísticos produzidos e inspirados pelo cristianismo, o que uma doutrina como o ateísmo teria a oferecer de semelhante? Será que a negação de Deus pode ser suficiente para inspirar um artista a produzir coisas belas?

***
Rodrigo R. Pedroso, com 32 anos de nascido, é brasileiro, casado, advogado graduado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (FD/USP), mestrando em filosofia política pela FFLCH/USP e procurador da Universidade de São Paulo. Críticas, dúvidas e sugestões podem ser enviadas para o correio eletrônico rpedroso01@terra.com.br




quinta-feira, 5 de julho de 2012

A importância da participação da Missa na paróquia




Domingo é o dia do Senhor. São João Maria Vianey dizia: "Um Domingo sem Missa é uma semana sem Deus". A nossa fé nos agrega numa grande família que é a Igreja, de maneira mais particular a Paróquia, onde eu coloco em prática a minha fé. Lá é onde eu recebo o suporte necessário para crescer na formação humana, na espiritualidade e em todos os tesouros sacramentais para minha salvação. A Igreja paroquial é minha casa, é o meu núcleo de fé e vida.
Tomemos por modelo os cristãos das primeiras comunidades: "Os que receberam a sua palavra foram batizados. Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações" (cf. Atos 2, 41-42).
Assim como eu preciso fazer uma experiência com Cristo para segui-lo, eu também preciso fazer uma experiência com a comunidade de fé, que é a Igreja, a portadora do depósito da fé, a extensão do grande corpo de Cristo e da qual eu sou membro. A comunidade é necessária para que a minha fé não seja estéril, morta, sem obras. Na comunidade paroquial, eu faço uma experiência de vida fraterna que faz toda a diferença no mundo de hoje. Na experiência dos apóstolos, o Domingo tem lugar especial por se tratar do dia da ressurreição do Senhor. No início, quando eles não tinham igrejas e eram perseguidos, eles celebravam em suas próprias casas. É isso que nós cristãos, hoje, somos chamados a resgatar: o sentido de casa de nossas paróquias, casa de comunhão e fé, ressurreição e vida.
Lembro-me, com muito carinho, da minha "paróquia mãe", a Catedral de Sant'Ana. Logo depois que eu encontrei Jesus e d'Ele recebi a Vida Nova, engajei-me na minha paróquia por meio do grupo de jovens, da Legião de Maria e da Missa Dominical, que não perdia por nada deste mundo; era por amor, era de coração. A partir daí, vieram a Direção Espiritual com o vigário Monsenhor Jessé Torres, a vida de oração e a vocação ao sacerdócio. Veja quantas riquezas a paróquia pôde me oferecer! Mas não posso me esquecer das desculpas imaturas de que não precisava ir à casa de Deus para encontrar o Senhor, que podia rezar em casa, pois Deus está em todo lugar e lá não se vê tanto testemunho, etc. Essas idéias acabaram quando fui crescendo no verdadeiro sentido de ser Igreja: "Eu sou e também faço a Igreja; sou discípulo de Jesus Cristo e estou neste caminho por Ele em primeiro lugar.
D.40.1 Celebração dominical, centro da vida da Igreja:
§2177 A celebração dominical do Dia do Senhor e da Eucaristia está no coração da vida da Igreja. "O domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o Mistério Pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como a festa de preceito por excelência."
"Devem ser guardados igualmente o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, de Santa Maria, Mãe de Deus; de sua Imaculada Conceição e Assunção, de São José, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e, por fim, de Todos os Santos".
Domingo primeiro dia da semana
§1166 "Devido à tradição apostólica que tem origem no próprio dia da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, chamado, com razão, o Dia do Senhor ou domingo". O dia da ressurreição de Cristo é, ao mesmo tempo, "o primeiro dia da semana", memorial do primeiro dia da criação, e o "oitavo dia" em que Cristo, depois de seu "repouso" do grande sábado, inaugura o dia "que O Senhor fez", o "dia que não conhece ocaso". A Ceia do Senhor é seu centro, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Ressuscitado, que Os convida a seu banquete: O dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos cristãos, é o nosso dia, pois foi, nesse dia, que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o denominam dia do sol, também nós o confessamos de bom grado, pois, hoje, levantou-se a luz do mundo; hoje, apareceu o sol de justiça, cujos raios trazem a salvação.
§1167 O domingo é o dia, por excelência, da assembléia litúrgica em que os fiéis se reúnem para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da Paixão, Ressurreição e Glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os 'regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos.
Domingo dia principal da celebração eucarística:
§1193 O domingo é o dia principal da celebração da Eucaristia por ser o dia da ressurreição. É o dia da assembléia litúrgica por excelência, da família cristã, da alegria e do descanso do trabalho. O domingo é o fundamento e o núcleo do ano litúrgico.
D.40.9 Obrigação de participar da liturgia dominical:
§1389 A Igreja obriga os fiéis "a participar da divina liturgia aos domingos e nos dias festivos" e a receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se possível no tempo pascal, preparados pelo sacramento da reconciliação. Mas comenda, vivamente, aos fiéis que recebam a santa Eucaristia nos domingos e dias festivos ou ainda com maior freqüência, e até todos os dias.
§2042 O primeiro mandamento da Igreja ("Participar da Missa inteira aos domingos, de outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho") ordena aos fiéis que santifiquem o dia em que se comemora a ressurreição
do Senhor e as festas litúrgicas em honra dos mistérios do Senhor, da santíssima Virgem Maria e dos santos. Em primeiro lugar, participando da celebração eucarística, em que se reúne a comunidade cristã, e abstendo-se de trabalhos e negócios que possam impedir tal santificação desses dias.
Antes de qualquer obrigação, o meu relacionamento com Deus deve ser por amor e o meu compromisso concreto exige tempo e espaço para se atualizar, por isso, a minha paróquia é lugar de encontro com Ele e com os meus irmãos na fé, onde eu alimento a minha experiência e vida com o meu Senhor. Não existe uma experiência autêntica de Jesus Cristo fora da comunidade, nela sou formado na Palavra, no Altar, no testemunho e na doação de minha vida.
Sabendo de todas essas maravilhas e chamados a renovar o nosso compromisso com Jesus Cristo e com a Igreja Paroquial, como tem sido a sua participação na sua paróquia? Qual tem sido a sua experiência paroquial? Você vai à Missa todos os Domingos?
Nunca é tarde para recomeçar. Minha benção fraterna+.
Padre Luizinho
Sacerdote Missionário da Canção Nova