quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sermão das Sete Palavras





1. "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem"

No auge do sofrimento, Cristo não perde a dimensão da fragilidade do ser humano e implora o perdão pra nossas culpas. Seu sangue derramado na cruz nos torna limpos para voltar à casa paterna. Mas somos também capazes de perdoar a nós mesmos e aos outros? Quando oramos: "Perdoai-nos, assim como perdoamos", sabemos o que pedimos? Aceitamo-nos incondicionalmente como somos e nos respeitamos? Quem não perdoa a si mesmo não perdoa a ninguém mais. Quem não se aceita não aceita aos outros. Pois para isso é necessário que se reconheça as próprias dificuldades e limitações, esforçando-se para se corrigir. E, dessa mesma forma, agir sempre com os outros.

Como interceder perdão aos que lhe provocaram tanto sofrimento?! Como perdoar depois de tanta angústia moral? Como perdoar depois de tanta agonia física? Depois de tanta fome e sede? Mas a Primeira Palavra da Cruz era maior que todo o sofrimento, que toda a asfixia… “Pai, perdoa-lhes…” Esta é a primeira das sete últimas palavras que Jesus proferiu na cruz do Calvário.

Eis um dos maiores desafios da Vida Cristã: o perdão. O ser humano diviniza-se quando perdoa. Supera suas limitações terrenas. Seu espírito se eleva para se capacitar ao perdão. Eis porque é quase impossível ao ser humano perdoar. Não é da sua natureza. É difícil e para muitos até impossível. O rancor é maior que o perdão. A natureza humana do Velho Homem é mais forte que a natureza divina do Novo Homem, como regra.

Ama, pois, a vossos inimigos, e fazei o bem, e emprestai, sem nada esperardes, será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lucas 6:27-29).

2. "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso".

Sentindo dores, o homem crucificado ao lado de Jesus não o insultou como os demais. Ao contrário, pediu e recebeu o seu perdão incondicional e imediato. Cristo não lhe prometeu o paraíso para depois. Tampouco lhe falou de novas vidas ou de reencarnações. "Hoje mesmo" - afirmou Jesus! E quantos de nós desacreditamos nessa misericórdia divina, acreditando que somente nosso esforço, nesta e em outras vidas, nos tornará dignos de voltar ao Pai.

“Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:43). Olhemos neste momento para a montanha solitária onde estão cravadas três cruzes. Jesus está no meio. Ao Seu lado, dois malfeitores. Aqui está o primeiro passo que precisamos dar se queremos resolver nossos problemas: reconhecer nossa situação, reconhecer que nosso problema não é apenas físico, mas viver separados de Deus. Reconheçamos que o nosso verdadeiro problema é não ter dado a Jesus o primeiro lugar na nossa vida.

Grande lição para a Igreja de hoje. Nossa mensagem não pode ser outra. Temos que falar do Céu. Temos que falar do Inferno. Temos que falar da Salvação e da Perdição. A realidade de nosso destino eterno deve ser nossa primeira preocupação.

Jesus, na cruz pregou Seu último sermão e teve dois ouvintes. Um deles buscou a Jesus apenas por motivos egoístas e não conseguiu ver a dimensão da bênção espiritual. Fechou seu coração e morreu sem esperança.

O outro também queria ser liberto da cruz, mas isso era o menos. Ele viu a sua situação miserável de pecador. Ele clamou por perdão. Pediu salvação. Jesus não o tirou da cruz, não o libertou da morte. O malfeitor morreu, mas morreu com esperança. E no Reino dos Céus um dia nós poderemos contemplar e conversar com este homem transformado.

Ao longo da história humana sempre houve estes dois tipos de pessoas. Aqueles que dizem “sim” e aqueles que dizem “não”. Aqueles que conseguem ver o verdadeiro Reino de Deus e aqueles que simplesmente estão pensando em resolver os seus problemas imediatamente e não conseguem ver a vida futura. Em que lugar nos encontramos? Quais são as nossas motivações?

3. "Mulher, eis aí o teu filho. Filho eis aí a tua Mãe!"

Apesar de todas as nossas infidelidades, ele não nos deixou órfãos: deu a sua própria mãe como nossa mãe. Mas seremos dignos de ser filhos daquela que disse o sim, totalmente incondicional, quando convidada a ser parte essencial do plano de Deus para nos salvar? Seremos nós também capazes de dar esse sim incondicional e, em cada atividade, testemunhar o Evangelho sem timidez? Não fomos feitos filhos adotivos de Maria e, por conseqüência, irmãos de Jesus Cristo, apenas para nos vangloriarmos de ser cristãos, sacerdotes ou ministros extraordinários da Igreja. Somente tomando consciência disso, ouviremos de Jesus: "Filho, eis aí tua mãe!

A terceira palavra de Jesus na cruz revela que a vida cristã não é somente ir à Igreja, ler a Bíblia, fazer oração. Vida cristã é também o cumprimento fiel dos deveres desta vida com nossa família e com a sociedade. Jesus, suspenso na cruz, pensou nos outros. Cristo cumpriu Seu papel de Filho neste mundo. Ele não se foi embora sem assegurar o futuro de Sua mãe. Ele não morreu sem antes ter a certeza de que alguém iria substituí-Lo nas Suas responsabilidades de filho. Todos tinham abandonado o Senhor. Seus discípulos tinham-se ido embora. A multidão zombava d’Ele. Os soldados riam da Sua situação. Os sacerdotes O acusavam, mas a mãe permanecia perto: “E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena” (João 19:25-30). Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem Ele mais amava estava presente, disse a sua mãe: “Mulher, eis aí o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe”. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.


4. "Tenho Sede!"

Jesus teve sede mas, ao invés de água, deram-lhe vinagre. Também para nós Jesus vive a dizer: "Tenho sede! Tenho sede de homens e mulheres, adultos e jovens, que caminhem comigo. Que não tenham medo de correr riscos, que não se apeguem a títulos, cargos e aos bens transitórios deste mundo. Que estejam dispostos a levar a boa nova a todas as criaturas. Tenho sede de justiça e de trabalho para todos, pois afinal meu Pai não criou o mundo só para alguns, mas indistintamente para todos. Tenho sede de pessoas que não aceitem o erro, porque é muito difícil combatê-lo. Tenho sede de ver a humanidade inteira totalmente feliz! Saciem pois essa minha sede, e a minha redenção pela cruz estará plenamente realizada!"

5. "Eli, Eli, lema sabachtani? - Meus Deus, meus Deus, por que me abandonastes?"

Teria Deus abandonando seu Filho na cruz? Certamente que não. Contudo, a natureza humana de Jesus sofria tanto que ele sentiu falta do carinho de seu e nosso Pai. Quantas vezes nós também gritamos a mesma coisa, porém sem qualquer convicção de que Deus nos escuta. Quantas vezes passamos meses e anos esquecidos de Deus, nunca nos lembrando de conversar com ele, agradecendo tudo o que dele recebemos. Mas, quando nos sobrevém qualquer sofrimento e a dor nos atinge, gritamos revoltados: "Por que nos abandonastes?" Mas não é ele quem nos abandona: nós é que o abandonamos. E, de repente, queremos atribuir a ele todos os sofrimentos que nós mesmos criamos, para nós e para os outros. Fazemos de nossa relação com Deus uma transação comercial: "Eu lhe dou esmolas e orações apressadas, em compensação quero receber tudo aquilo que penso ter direito. E, se não recebo o que quero protesto: "Por que me abandonaste?"

6. "Tudo está consumado!"

Jesus Cristo olha, do alto da cruz, o novo mundo que começa: a humanidade recebe, em letras de lágrimas, suor e sangue, e sua quitação por todas as dívidas assumidas. Mas estará tudo consumado para cada um de nós em particular? Será que nada mais tenho a fazer? Posso me esquecer de Cristo não permanece morto, que ele ressuscitou e está presente em cada ser humano?
Posso entrar num aposentadoria espiritual, nada mais fazendo porque Cristo já fez tudo por nós? Jesus consumou sua obra redentora na cruz. Mas foi exatamente ali que começou a nossa obra pessoal, como redimidos e discípulos de Cristo. Tudo estará consumado quando conseguirmos expulsar deste mundo o egoísmo, a ambição, o desamor, a miséria e a falta de oportunidade para todos.

7. "Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!"

Chega ao final a agonia da cruz, Cristo entrega-se totalmente nas mãos do Pai. Um dia, ao entregarmos também nossos espírito nas mãos do Pai, com certeza ele não nos perguntará pelas grandes obras que fizemos, mas pelas pequeninas coisas que deixamos de fazer. Voltar ao Calvário é redirecionar nossa vida. É tomar a decisão corajosa de entregar ao Pai não somente nosso espírito, mas nossas mãos, nosso coração, nossa mente e toda a nossa vida. Com certeza, ele já está de braços abertos a nossa espera. Como o pai do filho pródigo. Basta que nos lancemos neles, com total amor e confiança.

Fonte: Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja

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