sexta-feira, 20 de julho de 2012

Encontrar um amigo é encontrar um tesouro





- A construção da amizade 


Atualmente tem-se escrito muito sobre a amizade. Talvez o homem de hoje, de forma especial, necessite desse dom tão precioso. 

Mas o que é amizade? Existem muitas definições sobre amizade, poetas e filósofos falam sobre ela – Platão, por exemplo, diz que “Na amizade cintila um pouco do mistério de Deus”. 

Antes de mais nada é importante compreendermos que a amizade é construída, não nasce do dia para a noite. É na convivência do dia-a-dia, através das pequenas coisas que vamos nos conhecendo, nos identificando e nos escolhendo como amigos. 

A amizade está fundamentada no amor, e o amor é uma atitude exigente. Podemos, em meio à agitação do cotidiano, achar que nossos conhecidos são nossos amigos, mas convém lembrar as diferenças no nível dos relacionamentos: temos, talvez, inúmeros conhecidos, diversos colegas, mas amigos são poucos. Pela própria natureza da amizade, é difícil que tenhamos tantos amigos assim, muitos que conheçam profundamente o nosso coração, por quem seríamos capazes de dar a nossa vida... 

Jesus ensina o “segredo” da amizade: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”. Essa frase tem muito a nos ensinar, curar, transformar... Não existe amizade sem entrega, oblação, doação e isso é um caminho a ser trilhado a cada dia, desde a descoberta do outro, de seus dons, limites, virtudes... “Há amigos mais queridos do que um irmão” (Pv 18,24), entretanto não podemos esquecer que ”os riscos são precisos para cativar um amigo.” 

O caminho é bilateral, não há amizade sem adesão voluntária de duas pessoas. Como já disse, muito tem se falado, escrito, cantado, mas é necessário para o homem de hoje, marcado pelo consumismo, pela solidão, pela “praticidade” das coisas, pelo descartável, “perder tempo” para construir amizades. Podemos comprar muitas coisas, mas não o amor, a afinidade, a afeição... a amizade! 

Não existem amigos prontos nas prateleiras dos supermercados ou lojas de conveniência. É nas sendas da vida que estão os tesouros, pessoas a serem descobertas, amadas, aceitas. E para isso é preciso tempo (cuidar da única rosa, segundo Exupéry), diálogo, história de vida que ao longo do caminho se tornará história de amizade. Ela não tem dia nem hora marcada para surgir, é como uma semente plantada em solo fértil, depois de aguá-la e tratá-la, esperamos a “árvore”, e um belo dia quando olhamos ela está lá. 

Muitas vezes, construir uma amizade pode parecer uma violência para o homem do mundo atual, tão preso em si mesmo que se torna incapaz de olhar para o outro. Quanto mais centralizado formos em nós mesmos, menor a capacidade de termos amigos. “Por que em primeiro lugar, como pode ser suportável a vida que não repousa na mútua benevolência de um amigo? Que coisa é tão doce como ter um com quem falar de todo tão livremente como consigo mesmo? Seria porventura tão grande o fruto das prosperidades, se não tivéssemos quem delas se alegrasse, tanto quanto nós mesmos? E se poderiam sofrer as adversidades sem alguém que as sentisse ainda mais que aqueles mesmos que as experimentaram.” 

As diversas formas de expressão na amizade 
Na dinâmica da amizade é necessário expressão. É preciso “cativar”. 

E voltou então, à raposa: 

- Adeus, disse ele... 

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. (...) Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez a tua rosa tão importante. (...) Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa... 

- Eu sou responsável pela minha rosa... Repetiu o principezinho, a fim de se lembrar. 

O amor que está em nós quer expressar-se e na amizade isso pode ocorrer de várias formas: diálogo, cartas, telefonemas, passeios, no olhar, na dor, na eloqüência do silêncio... Mesmo na distância a amizade tem expressão. Quem de nós não tem um amigo que partiu – ou fomos nós que partimos! – e, mesmo que não estejamos perto fisicamente, sabemos que sempre podemos contar um com o outro, que nossos corações continuam irmãos... enfim, temos a certeza do vínculo que nos une. 

No relacionamento de amizade aprendemos muitas coisas: a amar, escutar, perdoar, proteger o secreto do outro e a nos humanizar. “Mas tirando-se tantos e tão grandes proveitos da amizade, o maior de todos é o que faz conceber belas esperanças, para tudo que possa sobrevir, e não deixa que desfaleçam os ânimos. Porque o verdadeiro amigo vê o outro como uma imagem de si mesmo.” 

Na alegria ou na dor, nada é de sobremaneira pesado quando temos amigos. Mesmo passando por trevas, a amizade sempre nos oferece um caminho novo, uma vida nova, uma esperança, pois no sofrimento também se prova a amizade. 

“Sem amigo, nada é agradável”, dizia Santo Agostinho. O poeta também elaborou um pensamento especial sobre a amizade: “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem... Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida... mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro... embora não declare e não os procure sempre...” (Vinícius de Morais). 

O que seria da nossa vida se olhássemos para trás e não víssemos as pegadas dos nossos amigos que marcaram o chão da nossa história? O que seria da Igreja sem as fecundas amizades entre Francisco e Clara, Teresa e João da Cruz... O que será de mim se não lançar sempre o meu olhar de gratidão para Deus que me deu tantos amigos, em tantas épocas, em tantos lugares... Mas de maneira especial dedico este artigo a minha amiga Nira, que unida a mim por desígnios misteriosos da providência divina, com a sua vida me faz crer que o amor é mais forte do que a morte (cf. Ct 8,6s). 

Fonte: Revista Shalom Maná 
Márcia Fernanda Moreno dos Santos


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