Por Pe. Jonathan Loop
Traduzido por Andrea
Patrícia
No Antigo Testamento, Deus
Onipotente dirigiu Salomão, o filho de Davi, a construir em Sua
honra um glorioso templo que serviria como Sua casa entre a nação
judia. Quando essa casa de Deus ficou completa após sete anos de
construção, foi-nos dito: “Uma nuvem encheu a casa do Senhor, e
os sacerdotes não podiam ministrar por causa da nuvem; pois a glória
do Senhor enchia a casa do Senhor.”1 Por esta razão o Salmista
exclama: “A santidade é vossa casa, Senhor, na duração dos
séculos.”2 entretanto, esse templo terrestre foi feito apenas para
servir como uma imagem do lugar de habitação do bom Deus no Novo
Testamento.
O Templo de Deus é
Sagrado
Na primeira de suas cartas
aos cristãos de Corinto, São Paulo escreve: “Vocês não sabem
que são o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês?
Pois o templo de Deus é sagrado, o que vocês são” 3. A essa luz,
nós podemos entender melhor as palavras de Nosso Senhor a mulher
samaritana que disse que os judeus louvavam a Deus em Jerusalém,
enquanto que os samaritanos louvavam a Deus no Monte Garizim. Ele
disse a ela: “Vem a hora em que não adorareis o Pai nem nessa
montanha nem em Jerusalém. Vem a hora e agora é quando os
verdadeiros adoradores irão adorar o Pai em espírito e em verdade.
Deus é espírito, e aqueles que O adoram devem adorá-lO em espírito
e em verdade”4 Em outras palavras, onde quer que haja uma alma
cristã em estado de graça, aí então encontraremos um templo onde
verdadeira adoração pode ser rendida a Deus Onipotente.
Vamos tomar, então,
alguns momentos para ver o quanto nós estamos aptos a tornar nossas
almas dignas moradas do Criador do Céu e da terra. Para fazer isso,
deixe-nos considerar brevemente algumas das qualidades que
caracterizam as lindas catedrais - Chartres, Notre Dame de Paris,
Basílica de São Pedro em Roma, para nomear algumas – que foram
construídas durante a Era da Fé. Essas igrejas foram projetadas
principalmente com o fim de honrar e glorificar o bom Deus; tudo
nelas era direcionado a esse propósito. Embora muitos estilos
diferentes tenham dominado vários períodos da arquitetura das
igrejas, há vários elementos que permanecem constantes através dos
séculos. Entre esses, nós devemos focalizar na grande ordem
encontrada nas igrejas católicas, a frequente presença da luz
natural, e o fato de que essas construções foram tradicionalmente
feitas de pedra.
O Altar é o Centro
Quando alguém entra numa
catedral católica, não pode deixar de se impressionar pela
grandiosidade do edifício bem como pela harmoniosa arrumação de
tudo contido nela.5 Esses dois elementos contribuem para o senso de
ordem que permeia os templos de nossa religião. É claro, se nós
falamos de ordem, nós necessariamente indicamos algo que tanto
estabelece quanto define essa ordem. Nas catedrais católicas – e,
de fato, até mesmo na mais humilde paróquia católica – esse
princípio da ordem não é nenhum outro senão o altar. Em um
sermão, o Arcebispo Lefebvre perguntou retoricamente: “O altar é
o centro de todas as nossas basílicas e nossas igrejas ou não é?”
Ele continua e diz: “O que os missionários fazem nas terras em que
eles querem evangelizar? A primeira coisa que eles fazem é montar
uma capela, um lugar de oração. E nesse lugar, o que eles colocam
no meio? Um altar.”6 Todo o desenho das igrejas católicas é feito
para direcionar as almas para o altar. Por quê? Porque lá é
oferecido o santo Sacrifício da Missa, que é o sacrifício da Cruz
renovado de uma maneira incruenta, e lá é ofertado a Deus o mais
perfeito ato de oração e adoração possível. A belíssima arte –
estatuário, vitrais, vestimentas e ornamentos— bem como a nobreza
das proporções majestosas de nossas catedrais são feitas
simplesmente para ajudar nossas mentes a compreender mais
perfeitamente a sublime realidade que é estabelecida nessas pedras
sagradas.
Assim como é nas nossas
catedrais e igrejas, deve ser em nossas almas. Cada faculdade, cada
desejo, cada propriedade das nossas almas deve ser direcionada a
reproduzir dentro de nós o sacrifício que Nosso Senhor ofereceu no
Calvário, e continua a oferecer em nossos altares. O que isso
significa para nós na prática? Para responder a isso, nós devemos
primeiro perguntar o que repousa no coração do sacrifício de Nosso
Senhor. Nós devemos verdadeiramente dizer que o sacrifício que
Nosso Senhor ofereceu no Calvário – e que Ele continua a oferecer
sobre os nossos altares – foi essencialmente de obediência a
vontade de Seu Pai: “Ele humilhou a Si mesmo, sendo obediente até
a morte, e morte de Cruz”7. Nós podemos ver a oblação final que
nosso Senhor fez no jardim do Getsêmani: “Pai, se possível,
afastai de Mim esse cálice. Todavia, que não seja feita a Minha
vontade, mas a Vossa”8. O Calvário, entretanto, foi simplesmente,
a expressão final de toda a vida de Cristo. São Paulo ensina que
quando Nosso Senhor entrou em nosso mundo, o primeiro movimento de
Sua alma foi para exclamar: “Sacrifício e oblação Vós não
quisestes, mas formaste um corpo para Mim. Então disse Eu: ‘Eis
que venho; no livro está escrito de Mim que Eu deveria fazer a Vossa
vontade.”9 Durante Sua vida pública, Ele nunca deixou de repetir:
“O Meu alimento é fazer a vontade Dele que me enviou.”10 Nossa
maior paixão deve ser buscar e cumprir a vontade de nosso Pai no
céu. Isso invariavelmente irá significar sacrificar aquilo que é
mais caro a nós – nossa própria vontade – sobre o altar de
nossos corações. Tudo o que há em nós — nossa mente, memória,
emoções, dons físicos — e até mesmo nossas posses exteriores
devem ser ordenadas a este altar espiritual e ao sacrifício
espiritual que é oferecido sobre ele.
Atenção a Nosso Senhor
Outro aspecto da
arquitetura das igrejas nos revela características adicionais do
simbolismo inerente nos templos cristãos. Tradicionalmente, igrejas
católicas foram construídas de frente para o leste para ficar na
direção do sol nascente. Assim, quando é rezada a Missa, a luz do
novo dia pode ser derramada dentro da igreja. Embora isso
evidentemente sirva a um propósito prático, também atrai a nossa
atenção a Nosso Senhor, que é a “luz do mundo.” No Evangelho
segundo São João, é relatado que falou sobre esse assunto em
inúmeras ocasiões. Por exemplo, imediatamente antes de Sua Paixão,
Ele explicou: “Eu venho como uma luz ao mundo; aquele que crê em
Mim, não permanecerá nas trevas”11 Ao orientar as igrejas que
eles construíram, nossos antepassados quiseram dessa maneira
destacar o fato de que a Santa Madre Igreja é iluminada pelo Sol da
Justiça.
Aqui novamente nós
podemos extrair uma valiosa lição para as nossas vidas espirituais.
Nós também precisamos projetar nosso edifício spiritual de maneira
tal que permita que Nosso Senhor lance Sua luz abundantemente dentro
de nossas almas. No prólogo do Evangelho de São João, nós lemos:
“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.”12 O que isso
significa? Nós devemos estudar a nossa Fé. O que é a nossa Fé
senão as verdades que Nosso Senhor nos ensinou? Quais são as
verdades que Nosso Senhor nos revelou senão as luzes sobrenaturais
muito mais brilhantes do que o mais brilhante conhecimento natural
dos maiores filósofos? O Arcebispo Lefebvre costumava dizer que uma
criança de cinco anos de idade que conhece o seu catecismo entende a
realidade melhor do que os mais renomados eruditos [que não conhecem
o catecismo]. Quanto mais absorvemos os ensinamentos do Deus
Encarnado, mais Ele deverá dissipar de nós a escuridão da nossa
ignorância e erro. Ele disse: “Eu Sou a luz do mundo: aquele que
segue a Mim, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.”13
O Próprio Cristo é a
Pedra Angular
Finalmente, é digno de
nota que o material de construção escolhido para as gloriosas
igrejas da Cristandade foi invariavelmente pedra. Além de ser uma
substância forte e nobre, tem o feliz emblema que nos lembra do fato
de que “O próprio Jesus Cristo [é] a pedra angular” da Igreja.
Ele é também a sólida fundação da Igreja: “Nenhuma outra
fundação pode ser posta, a não ser a que já foi posta; que é
Jesus Cristo.”14 Assim como é com a Igreja, é também em nossas
vidas interiores. Se nós quisermos ter uma piedade sólida e
equilibrada, nós devemos basea-la inteiramente em Nosso Senhor Jesus
Cristo como Ele se fez conhecido a nós através da revelação
pública que Ele legou à Igreja. De fato, não há necessidade de
multiplicidade de devoções privadas ou práticas piedosas com o fim
de agradar a Deus. Nós só temos que nos aproximar de Jesus e
repousar Nele. É somente desta maneira que nossas vidas espirituais
terão a estabilidade necessária que nos possibilitará evitar ser
excessivamente entusiasmados por consolos espirituais ou abatidos
pela desolação e pelas provações.
Nossas vidas
espirituais irão conter tanto os altos quanto os baixos. O glorioso
templo dedicado por Salomão seria despojado de seus tesouros dentro
de poucos anos15 e finalmente destruído quando o reino de Judá foi
levado ao cativeiro babilônico. Mais tarde, ele tanto retomaria a
Sua morada no segundo templo construído sob a supervisão de Neemias
quanto manteria Sua presença ali até à morte de Nosso Senhor Jesus
Cristo.16 Deus permitirá que o templo espiritual de nossas almas
sofra um destino semelhante na medida em que Ele permita —
devemos fielmente nos esforçarmos para servi-lO —
que sejamos despojados das riquezas da sua consolações. Podemos até
mesmo ir tão longe como dizer que Ele vai permitir que ele seja
destruído na medida em que Ele trabalha para aniquilar qualquer
coisa nele que seja indigna de Si mesmo. Apenas na medida em que nós
tenhamos colocado Cristo como o fundamento do nosso edifício
espiritual, assegurado que a Sua luz banha seu interior, e colocado
no seu centro o altar sobre o qual está sendo sacrificada a nossa
vontade, seremos capazes de suportar o trabalho construtivo de Deus
em nossas almas. Então Nosso Senhor e Seu Pai Eterno virão de bom
grado tomar posse eterna de nossas almas e enchê-las com a Sua
glória.
O autor:
Pe. Jonathan Loop
nasceu e foi criado como episcopaliano. Ele
frequentou a faculdade na Universidade de Dallas, onde recebeu a
graça de se converter, por intermédio de vários de seus colegas,
alguns dos quais mais tarde se tornariam religiosos com os
Dominicanos de Fanjeaux. Após graduar-se com grau de bacharel em
Filosofia Política, ele se matriculou no Seminário Santo Tomás de
Aquino, onde foi ordenado sacerdote em junho de 2011.
Notas:
1 I Reis 8,10-11.
2 Salmo 92,5.
3 I Cor. 6,19.
4 Jn. 4,21-4.
5 Na primeira visita
do autor a Europa ele visitou a Espanha. Junto com um amigo Mórmon,
ele entrou na catedral de Sevilha e foi subjugado pela imensidão e
majestade da construção. Como ambos tiveram que erguer suas cabeças
para assimilar toda a extensão do interior e vislumbrar o teto, os
normalmente loquazes adolescentes foram reduzidos à expressão de
monossilábica admiração.
6 Sermão de 27 de
Março, 1975.
7 Fil. 2,8.
8 Lc. 22,42.
9 Heb. 10,5, 7.
10 Jn. 4,34.
11 Jn. 12,46.
12 Jn. 1,4.
13 Jn. 8,12.
14 I Cor. 3,11.
15 I Reis 14,25. O
templo foi saqueado cerca de 30 anos depois de ter sido concluído.
16 Lc. 23,45.
Fonte: http://borboletasaoluar.blogspot.com.br
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